São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
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Tática e confusão

JUCA KFOURI

No anúncio da aposentadoria de João Havelange à frente da Fifa há uma tática conhecida e muita confusão pela frente.
A tática é óbvia. Como em outras ocasiões, Havelange sai do páreo para tentar disputá-lo sozinho, "atendendo a apelos". Em todas as outras oportunidades deu certo, mas ele sabe que agora está bem mais difícil, tantos adversários colheu com seu estilo monárquico -além de já estar cansado para sair mundo afora pedindo votos e de estar perdendo alguns de seus aliados por morte ou doença.
A confusão não será pouca porque Havelange é mestre em contradições.
Foi derrotado na escolha da dupla sede para a Copa de 2002, por exemplo, mas mandou seus seguidores espalharem que a proposta partira dele mesmo.
Sabe-se que foram os europeus que impuseram o absurdo e os mesmos europeus serão capazes até de votar em bolas quadradas para subjugar Havelange.
Para tentar dividir a Europa, Havelange deixa vazar que poderá apoiar o italiano Franco Carraro, o presidente da (ironia!) liga (palavra proibida por aqui) italiana. Mais: Havelange lança balões de ensaio até na direção do camaronês Issa Hayatou, exatamente o homem que comandou a reação contra ele na África, cuja confederação preside. Tudo para confundir.
Para o nosso futebol, no entanto, será mesmo muito bom que Havelange caia, o que diminuirá sua influência nefasta por aqui.
É bom lembrar que o Brasil só venceu uma Copa na gestão de Havelange, exatamente aquela que daria uma indispensável sobrevida para seu genro na CBF.
Mas o mais importante se de fato Havelange sair, do ponto de vista brasileiro, será a possibilidade de, enfim, os clubes partirem para a sua própria liga, sem temer retaliações que certamente a CBF tentaria, na atual situação, na Fifa.
Porque é claro que por mais que um Eduardo Farah, por exemplo, esteja de olho na possibilidade de ocupar o espaço de Ricardo Teixeira, nem ele nem ninguém ao seu estilo significará qualquer progresso, ao contrário.
O que parece estar acabando mesmo é o estilo "primeiro eu, depois o futebol", até porque os beneficiados já estão garantidos, assim como seus netos.
Se tal esquema acabar, o esporte mais popular da Terra terá um futuro luminoso pela frente.

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