São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996
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A lista dos santos

ELIO GASPARI

Ficou difícil a vida para o ministro Luiz Carlos Santos, do Balcão Político, e para o presidente do Banco do Brasil, Paulo Cesar Ximenes. Tudo por conta dos papéis com resumos de cadastros de parlamentares do PPB que foram entregues ao senador Esperidião Amin.
Está tão difícil que os dois dizem coisas desconexas.
Luiz Carlos Santos:
"Esse dossiê não existe, e, se existe, é criminoso. Se há o crime, nem o senador Esperidião Amin nem ninguém tem o direito de ocultá-lo. Agora, se não existe, o anúncio da lista é uma tentativa de criar crises e provocar a instabilidade política do governo."
Paulo Cesar Ximenes, em nota oficial do Banco do Brasil:
"Conforme é praxe no mercado bancário, estudos internos são realizados rotineiramente para direcionar o relacionamento negocial do Banco com sua clientela."
Muito bem, então o dossiê não existe, mas a praxe permite supor que exista um estudo interno "para direcionar o relacionamento negocial do Banco com sua clientela".
HAL aderiu
Bingo. Sabendo-se que o Banco do Brasil tem 5.000 agências e 20 milhões de clientes, fica difícil entender como é que o computador cuspiu uma lista de parlamentares do PPB. Para que um computador forneça uma lista de cadastros de parlamentares do PPB, é preciso que alguém lhe diga os nomes dos parlamentares do PPB e lhe peça a lista. Fora daí, não tem jeito, a menos que FFHH tenha recrutado para a campanha de sua reeleição um aliado cibernético, como o inesquecível HAL, que trabalhou no filme "2001: Uma Odisséia no Espaço".
Uma das características do tucanato é a opção preferencial pelo interlocutor néscio. Admita-se que um idiota resolva sustentar a possibilidade de que essa lista venha a ser, de fato, um estudo de "relacionamento negocial". Que tipo de negócio?
Estava errada a notícia de que a lista em poder do senador Amin continha as fichas de todos os parlamentares da bancada do PPB. Ela teria apenas nove nomes. Entre eles, Benedito Domingos, do Distrito Federal, que tem uma agência de turismo e um posto de gasolina. José Linhares, outro nome da lista, é padre e cearense. A única coisa capaz de unir os nove cidadãos num estudo de cadastros de clientes do Banco do Brasil é algum interesse negocial com a bancada do PPB. Afora essa afinidade, eles nada têm a ver um com o outro. (Deixe-se de lado, para não tumultuar o a$$unto, o fato de o BB, o maior banco quebrado do mundo, emprestar dinheirinho rápido a parlamentares de todos os partidos.)
Reforma pessoal
Não há prova de que algum parlamentar de cadastro arcaico tenha sido convencido a reformar simultaneamente a Constituição e seus papagaios, prorrogando, numa só relação negocial, o prazo de vencimento das próprias dívidas e o mandato de FFHH.
Mesmo assim, será fácil comprovar se os números que constam da papelada em poder do senador Amin comprovam a quebra do sigilo bancário dos parlamentares. Para isso, pode-se dispor do depoimento dos listados e do computador do BB.
Para que uma pessoa seja capaz de recolher uma lista desse tipo na memória de um computador, é necessário que disponha de uma senha. É de se supor que a programação das máquinas do Banco do Brasil guardem um registro de qual senha xeretou qual conta. (No Banco Central, com objetivos e operações diversas, ninguém passeia pelo sistema sem ser cuidadosamente rastreado.) Havendo esse controle, bastam algumas dezenas de minutos e um pouco de boa vontade para que o Banco do Brasil possa informar quem puxou a lista.
Não havendo, ainda assim pode-se verificar a autenticidade dos números. No caso do deputado Benedito Domingos, eles estavam incompletos, mas refletiam suas operações com o BB. Bastaria conferir os números da lista com as fichas de cada um para se poder dizer se essa lista foi de fato extraída do computador do banco. Depois, é só perguntar a sério: para quê?
Não há razão para gritaria em torno desse episódio. Ele pode ser esclarecido por meio de providências simples. O pior que pode acontecer ao ministro Luiz Carlos Santos é ver o senador Amin sentado sobre a lista, sem entregar uma cópia à autoridade pública autorizada a cuidar do futuro daqueles que a produziram e manipularam.

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