São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996 |
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Serenidade eleva a mão da Portuguesa à taça
ALBERTO HELENA JR.
Mais do que as irresistíveis arrancadas do menino Rodrigo, do toque de bola refinado e irreverente de Zé Roberto no meio-campo, do que a sábia determinação de Capitão e Gallo, das investidas de Alex Alves, da segurança do goleiro Clemer, o que mais tem me impressionado na Portuguesa de Candinho é a serenidade com que enfrenta as piores adversidades em partidas como a desta noite, jogadas sobre o fio de uma navalha. E é esse estado de espírito que tem permitido o time atingir um nível de performance qualificada. Pegue-se o exemplo do jogo do último domingo, contra o Atlético-MG: o juiz, do tipo exibicionista, deu três estocadas mortais na Lusa -o pênalti de Carlos Roberto em Euller; aquele toque de Gallo quando o bandeirinha marcava impedimento do ataque mineiro e a expulsão de César (correta, por sinal). Qualquer time menos preparado psicologicamente teria desabado num desses três momentos cruciais. A Lusa, não. Como um pugilista bem treinado, assimilou os golpes, manteve-se de pé, olhando nos olhos do adversários e buscando suas fraquezas para melhor explorá-las. Se conseguir manter esse estado anímico, estará com uma mão na taça. A outra, claro, é a do Grêmio. * O Barcelona é nosso velho amor. Não me refiro àquele amor familiar, herdado, por exemplo, do vô José Sanz Duro, catalão priápico e anticlerical irreverente, que, aos 92 anos, segundo suas contas imprecisas, expulsou do quarto o pároco chamado à socapa pela filha mais velha e mais carola, antes de exibir o último sorriso irônico de sua vida: "Vade retro, urubu!". Até poderia, não fosse don José tão contra o futebol como anticlerical. Para ele, forjado nas minas de carvão quando menino, anarquista que virou socialista e morreu stalinista, claro, futebol era o ópio do povo. Refiro-me, sim, aos antigos laços que unem o nosso futebol ao velho Barça. A começar pelo goleiro Jaguaré, que, segundo Mário Filho, era especialista em defender pênalti e ainda sair com a bola rolando na ponta do fura-bolo. Passa por Fausto, a "Maravilha Negra", nos anos 30, se reencontra com Evaristo de Macedo, um craque como poucos, nos 50, e desemboca nos anos 90 em Aloísio, becão hoje do Porto, de Portugal, e Romário, que antecede a dupla de ouro Giovanni-Ronaldinho. Agora, fala-se no menino Denílson. Pelo jeito, é amor eterno. * Por falar mais uma vez em Fausto, do outro lado da linha vem a confirmação do Walter Silva, o Pica-Pau: tanto jogou na Lusa que sua figurinha é a de número 49 do álbum de balas Futebol de 1938, ao lado de Barros, num time que tinha Rodriguez no gol e Arturzinho na meia-esquerda. É a figurinha difícil que falta no encantador álbum de recordações do João Máximo. Texto Anterior: Diretoria acerta 'bicho' do título Próximo Texto: Retrospectiva 96 (2) Índice |
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