São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996
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Sesc traz mãe de Nina Hagen

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A mãe de uma roqueira interpretando Marlene Dietrich. Foi esta a atração escolhida para comemorar os 50 anos do Sesc.
Eva-Maria Hagen, 62, é a mãe de Nina Hagen, cantora pop que chegou a fazer um certo sucesso no Brasil nos anos 80.
Acompanhada pelo pianista Siegfried Gerlich, ela interpreta canções de Friedrich Hollander, que ficaram conhecidas na voz de Marlene Dietrich.
Filha de camponeses, na antiga Alemanha Oriental, Hagen foi a Berlim Oriental aos 16 anos com um intuito: virar atriz.
"Eu não tinha cultura nenhuma, mas queria ser atriz. Acabei sendo admitida na Escola de Atores de Berlim", conta.
Brecht
Foi atrás do dramaturgo Bertolt Brecht e, em 1953, conseguiu um papel pequeno em sua companhia.
Ela lembra o carinho do dramaturgo. "Brecht cuidava muito de mim. Ele tinha medo que uma jovem inocente como eu se perdesse nos descaminhos de uma cidade grande."
Isto acontecia até quando o teatro estava fechado, nas férias de verão. "Ele mandava sempre alguém saber como eu estava. Berlim, logo depois da guerra, era uma cidade perigosa, cheia de ruínas e gente faminta."
Canções com letra do dramaturgo Bertolt Brecht, enfocando basicamente sua parceria com o compositor Kurt Weill, também fazem parte do recital de hoje.
Expulsões
Mas o autor teatral mais importante na vida de Hagen foi Wolf Biermann, cujas canções ela também interpreta.
Viveram juntos nos anos 60. E, em 1976, já separados, mas ainda amigos, foram ambos expulsos da Alemanha Oriental.
"Primeiro, eles expulsaram Biermann. Depois, eu comecei a liderar protestos contra a expulsão, e também acabei tendo que sair."
Em tudo isto, afirma, o papel da filha foi fundamental.
"Nina já era um ídolo na Alemanha Oriental. Ela sempre dizia: 'se Biermann não voltar, eu não fico por aqui'."
"Em 1968, aos 13 anos, Nina já havia posto uma bandeira tcheca na janela de casa, protestando contra a invasão de Praga pelos russos, e só não foi presa porque a polícia secreta achou que era criancice."
A adaptação ao Ocidente não foi fácil. "Embora tenha saído de uma Alemanha para a outra, sentia-me uma estrangeira. Cultura, paisagem, tudo era diferente. O único traço em comum era o idioma alemão."

Show: Eva-Maria Hagen
Quando: hoje, às 21h
Onde: Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822, tel. 273-1633)
Preço: R$ 6,00 e R$ 3,00 (para comerciários)

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