São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 1996
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"Companheiros: às armas!"

GUSTAVO BERG IOSCHPE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Vestibular é guerra. O que muita gente não se dá conta é que se está competindo com outra pessoa (ou até mais de cem pessoas) por uma vaga. O objetivo não é tirar uma certa nota, mas sim eliminar concorrentes.
Claro que o jeito honesto de eliminá-los, como previsto pela Convenção de Genebra, é estudando muito. Mas você já viu alguém respeitando a Convenção de Genebra?
Durante o vestibular, menos ainda. Rolam as maiores baixarias. Várias artimanhas para desestabilizar o concorrente, claro que sempre de acordo com as características do lugar. Na Bahia, o método mais sutil de intimidação é a famosa "peixeira", com uma foto da Lorena Bobbit para conter os mais afoitos.
No Sul impera a técnica do "joelhaço", como descrita pelo "Analista de Bagé". Os cariocas são, tipicamente, mais desinibidos: é prática comum levar um AK-47 na hora da prova. O portador da arma sussurra ao ouvinte: "aí, meu irrrmão, se acerrrtar essa queishtão, leva bala perrrdida na teishta, falô?".
Fora de brincadeira, de vez em quando tem sujeira entre concorrentes.
Algumas práticas comuns que podem cruzar o seu caminho:
a) Antes da prova. Um papinho com a galera amedrontada é fundamental. Dizer que você descobriu que vão cair três questões sobre a Sabinada porque conhece um membro da banca pode desestruturar até os mais confiantes. Deve vir sempre acompanhada da frase "Gabaritei a prova de ontem", para estraçalhar o resto de auto-estima do concorrente.
b) Durante a prova. Pentelhe. Leve uma mochila com fecho de velcro. Abra-a no meio da prova, fazendo bastante barulho. Tire de dentro uma garrafa de refrigerante gelado. Beba do canudo, caprichando no "sluuurp" final. Depois coma uma maçã, daquelas bem crocantes. Pode dar uma olhada para os concorrentes babando, se quiser tripudiar. Depois dê aquela coçadinha na pança, boceje e fique insistindo para ir ao banheiro.
c) Depois da prova. A cara de confiança à saída é fundamental. Chegue perto daquele grupinho nervoso, que está conferindo as respostas. Sorria, de leve. Pense na questão mais difícil da prova, aquela impossível, a número 12. Aí diga "Pô, e aquela 12, hem, que insulto." Todos concordarão num muxoxo. "Para errar aquela tem que ser analfabeto ou retardado mental", você completa.
Só um detalhe: lembre-se de trocar de vítimas cada vez que for passar essa logração. De repente os oprimidos se unem e aí, ó: pernas pra que te quero.

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