São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 1996
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Woolrich volta em livro e filme

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o número de versões cinematográficas de um romance for um indicador positivo de suas qualidades, "Casei-me com um Morto", de Cornell Woolrich, está próximo de ser uma obra-prima.
No ano em que está saindo no Brasil uma ótima tradução da história, publicada originalmente nos anos 40, chega às telas dos EUA o terceiro filme baseado nessa mesma obra de Woolrich.
Célebre pela autoria do conto que deu origem a "Janela Indiscreta", de Alfred Hitchcock, Woolrich forneceu muito mais matéria-prima para o cinema, como "A Noiva Estava de Preto", adaptado para as telas pelo francês François Truffaut.
O interesse do cinema por "Casei-me com um Morto" se explica por seu sedutor argumento.
Durante uma viagem de trem, uma moça infeliz -pobre, grávida e abandonada pelo amante- conhece o seu oposto, uma moça feliz -grávida, rica e recém-casada.
As duas se aproximam durante a viagem, conversam, riem, trocam algumas confidências, até que ocorre um acidente: o trem sai da pista, a menina rica e seu marido morrem e a pobre sobrevive.
A partir daí, Woolrich vai narrar as angústias de Helen Georgesson, a menina pobre que será confundida com a rica e recebida como se fosse a nora pela família Hazzard.
O argumento e alguns trechos da narrativa de "Casei-me com um Morto" podem até ser considerados inverossímeis, mas Woolrich faz uso deles para mergulhar a personagem em dramas básicos.
O leitor que se deixar levar pela história vai acabar sofrendo com Helen Georgesson -e essa é, talvez, a maior qualidade que Woolrich alcança na obra.
Primeiro, o escritor detalha com requintes a transformação de Helen Georgesson em Patrice Hazzard. Deslumbrada com a vida de confortos que jamais teve, ela se mostra incapaz de esclarecer o mal-entendido em que se meteu.
Quando a situação começa a se acomodar, Woolrich faz a personagem enfrentar um chantagista, que pode pôr tudo a perder.
Para os fãs radicais de Woolrich, "Casei-me com um Morto" talvez seja visto como um romance água-com-açúcar. Leitores menos "sectários" vão conseguir ver na obra alguns dos traços que consagraram Woolrich como um dos mestres do "noir".
Os três filmes
"Casei-me com um Morto" (tradução literal do título original) foi publicado em 1948, assinado com o pseudônimo de William Irish.
Em 1950, a obra foi adaptada para o cinema por Mitchell Leisen e virou "No Man of Her Own", com Barbara Stanwyck. Curiosamente, no Brasil, o filme foi lançado com o sensacional título do livro.
Em 1982, foi a vez de um francês, Robin Davis, se aventurar pela obra de Woolrich, dirigindo "J'ai Épousé une Ombre", com Nathalie Baye à frente do elenco.
Neste ano, "Casei-me com um Morto" virou "Mrs. Winterbourne", dirigido por Richard Benjamin, com Shirley MacLaine.
Os três filmes têm algo em comum: são considerados ruins pela maioria dos críticos.

Livro: "Casei-me com um Morto"
Autor: Cornell Woolrich
Tradutor: Rubens Figueiredo
Lançamento: Companhia das Letras Quanto: R$ 19 (262 págs.)

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