São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nogueira interpreta cravo de Bach

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

A cravista brasileira Maria Lúcia Nogueira lança hoje, em recital no Masp, seu primeiro CD, dedicado exclusivamente a Johann Sebastian Bach.
Ex-aluna de Hughette Dreyfus, ela estudou por cinco anos em Paris. Aprendeu piano na infância e, na adolescência, apaixonou-se pela sonoridade do cravo e pela enorme riqueza de articulação e ornamentação da música barroca.
É uma purista que acha que cada repertório deve ser executado no instrumento para o qual foi concebido. Leia a seguir trechos da entrevista que a cravista concedeu à Folha.
*
Folha - Você é intérprete de cravo, um instrumento que foi substituído, por assim dizer, pelo piano. No que se distingue a interpretação dos dois?
Maria Lúcia Nogueira - O cravo é um instrumento que não possui dinâmica -ou possui uma dinâmica muito limitada se comparado ao piano. Foi o instrumento perfeito para a interpretação da música de sua época, que é a música barroca.
Nesse repertório a articulação é essencial, é a responsável pela vida e expressão da música, assim como a ornamentação, que a enriquece e torna expressiva. O cravo é perfeito para essa música. Acho que realmente não serve para o repertório posterior, assim como o piano não me parece tão apropriado para a música barroca.
Folha - Muitos pianistas tocam as peças que constam de seu CD ao piano. Qual é sua opinião acerca dessas leituras?
Nogueira - Eu respeito. Acho que não existe pianista que não queira tocar Bach e outros compositores barrocos, mas acho muito mais difícil chegar a uma interpretação correta, porque o cravo, por sua natureza e pela forma como é tocado, é mais adequado.
Se o pianista fizer uma ornamentação correta, estudar a fundo a interpretação barroca, à luz dos estudos das últimas décadas, pode chegar a fazer interpretação mais aproximada.
Folha - De onde vem o seu instrumento?
Nogueira - Meu cravo é do ateliê William Dowd, de Paris. Foi feito em 1983, mas é uma réplica de um modelo francês do século 18 concebido por um grande construtor chamado Plancher. Há algumas décadas que se vem produzindo, outra vez, cravos de excelente qualidade. Claro que os instrumentos originais são incomparáveis, mas são poucos e caros.
Folha - Por que Bach ocupa o primeiro lugar em sua preferência?
Nogueira - Adoro todo o repertório barroco, mas gosto mais de Bach, que me parece o mais rico em idéias musicais. Toco também muita música francesa e Scarlatti.

Recital: Maria Lúcia Nogueira
Onde: Grande Auditório do Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 011/251-5644)
Quando: hoje, às 20h30 Quanto: R$ 10 e 5 (estudantes)
Disco: Invenções e Sinfonias de J. S. Bach
Artista: Maria Lúcia Nogueira
Lançamento: Paulus (tel. 011/571-9416)
Quanto: R$ 15,80

Texto Anterior: CD mostra vitalidade de John Lee Hooker
Próximo Texto: Sem o violonista Al di Meola, 'guitar duo' faz duelo de virtuosismo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.