São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 1996 |
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Sem o violonista Al di Meola, 'guitar duo' faz duelo de virtuosismo
LUIZ ANTÔNIO RYFF
E como a causa oficial do afastamento de Meola é uma pneumonia, é provável que o espanhol Paco de Lucia e o inglês John McLaughlin tivessem de fazer as outras apresentações no Brasil em duo (ontem, no Rio de Janeiro, e hoje, em Salvador). Se a ausência de Meola frustrou os espectadores, não foi o suficiente para fazer com que eles pedissem a devolução do dinheiro do ingresso, como foi oferecido pela organização do espetáculo. Sem Meola, a estrutura do concerto ficou comprometida. O que foi apresentado foi um show absolutamente diferente do "guitar trio" original. A começar pela duração. A promessa era tocar por duas horas e meia. De Lucia e McLaughlin ficaram menos de duas horas no palco. De Lucia abriu o espetáculo, o que nunca acontece -ele é sempre o segundo a se apresentar. E as partes individuais foram aumentadas. A platéia também foi privada de "Manhã de Carnaval" (Luis Bonfá e Antonio Maria), um dos melhores momentos do último disco do trio e que é interpretada por McLaughlin e Meola. Mas, apesar da pneumonia inconveniente e das alterações de roteiro, o show foi impecável. É verdade que De Lucia abriu o concerto um pouco titubeante -o que talvez seja suficiente para que o violonista o classifique entre os 99% de shows em que não fica satisfeito com o seu desempenho. Mas em pouco tempo ele pareceu relaxar, mostrando destreza impressionante ao usar o corpo do violão como instrumento de percussão. E sua técnica com a mão direita é surpreendente. McLaughlin mostrou que é um violonista mais eclético do ponto de vista estilístico. Consegue incorporar até o estilo flamenco de De Lucia. Às vezes, toca o violão como uma guitarra elétrica, o que não compromete sua performance. Tecnicamente é mais limpo, suas notas soam mais claras e precisas. Em sua apresentação individual, McLaughlin mostrou maior preocupação com a harmonia e com a composição do que De Lucia, que usa o violão praticamente como instrumento solista. Mas, se McLaughlin é mais rigoroso, em contrapartida é menos emocional. De Lucia consegue esquentar mais a platéia. Os melhores momentos do concerto são quando os dois dividem o palco e multiplicam o interesse do público. Eles provam que são insuperáveis juntos. Em "Frevo Rasgado" (Egberto Gismonti), que abre o trabalho do duo, o concerto ganha ares de duelo cordial -nem por isso menos violento ou passional. Enquanto o público urra, os duelistas se animam, trocam sorrisos em meio às longas e inspiradas improvisações. O show chega ao fim e quem se lembra de Al di Meola? Texto Anterior: Nogueira interpreta cravo de Bach Próximo Texto: Mais magro, Milton faz show em BH Índice |
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