São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 1996
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POLÍTICOS SEM MORAL

Para os que acompanham com pouca atenção os fatos políticos, a considerável rapidez com que o Congresso parece ter investigado a denúncia de corrupção envolvendo o deputado federal Pedrinho Abrão (PTB-GO) pode sinalizar um compromisso do Legislativo federal com a moralização de suas atividades. Mas tal avaliação não passa de lamentável engano.
Assim que o caso tornou-se público, deputados e senadores caracterizaram-no como um episódio isolado. A Câmara montou uma comissão de sindicância, que concluiu que Pedrinho Abrão realmente pediu propina à empreiteira Andrade Gutierrez. A comissão decidiu, assim, solicitar a cassação do mandato do deputado.
Na verdade, ocorreu nova tentativa dos parlamentares de evitar que um caso específico viesse a provocar uma espécie de auditoria em procedimentos viciados do Congresso. Comprovada sua culpa, obviamente Abrão deve ser punido com a cassação do mandato. Mas isso não elimina a urgente necessidade de acabar com práticas imorais do Legislativo que, lamentavelmente, não estão restritas ao episódio em questão.
Trabalha-se por um novo Brasil, com uma nova moeda e uma nova economia. Mas a política, infelizmente, não tem acompanhado os recentes ventos de mudança -o que é, em grande parte, culpa da própria sociedade. Passam anos, mandatos, eleições, e políticos brasileiros continuam sobrepondo seus interesses particulares -frequentemente espúrios- aos interesses nacionais.
Esse quadro desolador foi corroborado pela Câmara paulistana. Vereadores do PPB, partido do prefeito da cidade, Paulo Maluf, e do prefeito eleito, Celso Pitta, voltaram-se contra os dois, em defesa de si mesmos. Queriam manter seu poder sobre as administrações regionais. Queriam garantir privilégios. Maluf, aparentemente, os atendeu em várias reivindicações, e os vereadores recuaram.
É extremamente penosa a constatação de que a sociedade brasileira ainda tem de conviver com situações tão vexatórias. Mesmo com grandes avanços em outros setores, um Brasil realmente novo no campo político só surgirá quando os eleitores se compenetrarem da alta responsabilidade que envolve o ato de votar. Mas essa situação, que somente poderá ser alcançada com enormes esforços na área da educação, não está sendo vislumbrada em um futuro próximo.

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