São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 1996
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Entrei na festa errada

CLÓVIS ROSSI

Cingapura - O que é que eu estou fazendo aqui? Essa pergunta ficava martelando o cérebro cansado durante a entrevista coletiva em que a xerife do comércio norte-americano, Charlene Barshefsky, comentava os resultados da Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Era uma festa, pelo fato de se ter chegado, entre os ricos ou quase, a um acordo para zerar as tarifas de importação de todos os bens de informática, até o ano 2000.
Parecia festa de formatura ou de entrega do Oscar. Barshefsky ficou escondidinha atrás do cartaz com o logo da conferência, enquanto seu porta-voz falava dos elogios feitos a ela pelo presidente do encontro, o ministro do Comércio de Cingapura.
Aí, veio para o palco, sorridente. Apresentou seus principais assessores, sentados ao lado, apontou para os assessores menos importantes, de pé, pouco abaixo do palco, agradeceu a todos, contou que até o presidente Clinton lhe telefonara para "expressar sua satisfação".
Sensação nítida de que havia entrado na festa errada. O Brasil não joga esse jogo. Como vai manter, até 2006, barreiras para a área de informática, não poderia aderir ao acordo.
Com isso, não ganha nem do lado da exportação nem da importação. Poderia lucrar exportando bens de informática a tarifa zero. Mas não os produz, pelo menos não em condições de competir. Como preserva tarifas elevadas, o custo de importação de tais equipamentos não muda.
Não sou dos que acham, ao contrário das teorias hoje hegemônicas, que protecionismo é pecado. Todos os países protegem sua produção, de uma forma ou de outra.
Mas fica a dúvida: durante anos, a área de informática foi absolutamente protegida pela reserva de mercado. Nesse período, ela não conseguiu se tornar competitiva. Por que supor que conseguirá justo agora que a proteção é menor?

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