São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Congresso reúne pais que cuidam da casa

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O primeiro congresso nacional de "pais em casa" foi realizado na Universidade de Oakton, em Illinois, Meio-Oeste dos EUA, recentemente.
Ele reuniu 50 dos cerca de 2 milhões de pais que se dedicam às tarefas domésticas da criação dos filhos ou por porque têm empregos que lhes permitem trabalhar em casa ou porque suas mulheres têm salários melhores e eles resolveram se encarregar das funções do casamento consideradas tradicionalmente femininas.
O coordenador do encontro foi o psicólogo Robert Frank, ele próprio um "pai em casa" há nove anos, desde que nasceu o filho Kevin (ele também tem uma menina, de 7, Alexandra Joana).
Frank está terminando um estudo sobre as diferenças entre as famílias que têm pais encarregados das tarefas domésticas das tradicionais. Ele deu entrevista à Folha por telefone.
Mulheres
Uma das diferenças constatadas por Frank em sua pesquisa de 371 famílias com pais em casa é que as mães que trabalham fora enquanto seus maridos se ocupam do serviço doméstico assumem mais tarefas do lar do que os homens na situação tradicional.
O pai que trabalha fora raramente faz jantar, dá banho nas crianças ou as coloca para dormir quando chegam em casa, tarefas em geral mantidas pela mãe que tem o marido em casa.
O "pai em casa" cuida do café da manhã, almoço e lanche das crianças, leva os filhos para a escola e atividades, troca fraldas dos bebês, lava a roupa e limpa a casa. Mas quando a mulher chega em casa no final do dia, transfere para ela as obrigações domésticas.
Nos fins-de-semana, a mulher que trabalha fora e tem o marido em casa também em geral trabalha mais do que o marido na situação tradicional com a mulher em casa.
Os dois motivos principais para o marido resolver ficar em casa são: o desejo de manter os filhos fora de berçários ou pré-escolas e o fato de a mulher estar recebendo salário melhor do que o dele.
Cerca de 50% das crianças criadas por "pais em casa" apelam para eles em casos de ferimentos ou pesadelos, enquanto nas famílias tradicionais 80% procuram a mãe.
Frank acha que as porcentagens não se invertem, como seria de se esperar, porque as mulheres dos "pais em casa" ainda mantêm muitas de suas tarefas domésticas em relação aos filhos.
Bom humor
Outro pesquisador do fenômeno que apresentou um trabalho no congresso, o também psicólogo Kyle Pruett, diz que os filhos de "pais em casa" em geral são mais bem-humorados do que os criados em famílias tradicionais.
Outra diferença observada por Pruett é que os filhos de "pais em casa" lidam melhor e ficam mais à vontade desde cedo com amigos do sexo oposto.
"As diferenças de gênero são menos marcadas para as crianças criadas por pais em casa", afirma ele. Frank acha que o número de "pais em casa" tende a crescer, devido à maior facilidade para se obter dinheiro trabalhando sem sair de casa.

Texto Anterior: Escola contrata não-licenciados
Próximo Texto: Situação social muda os hábitos no Brasil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.