São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Situação social muda os hábitos no Brasil

Pai em 'tempo integral' é efeito do desemprego

ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA
DA REPORTAGEM LOCAL

No Brasil, especialistas divergem sobre a razão da mudança de papéis no casal: a mãe trabalhando fora e ganhando dinheiro, e o pai em casa, cuidando dos filhos.
Para a psicóloga Margareth Arilha, 39, diretora da Ecos (organização não-governamental), a realidade social causou mudanças nos hábitos masculinos.
"Ser um pai 'tempo integral' não é uma opção do homem de reestruturar sua vida para ficar mais perto dos filhos. É uma decisão empurrada pelo desemprego e pela incorporação da mão-de-obra feminina", afirma.
"As mulheres desejam cada vez mais se inserirem no mercado de trabalho, mas os homens não demonstram o mesmo interesse em participar do ambiente familiar", completa.
Para o psicoterapeuta Luiz Cuschnir, 47, que está organizando o 2º Congresso Internacional da Identidade do Homem, nos últimos 15 anos o homem brasileiro mudou muito.
"Houve uma mudança brutal no comportamento da sociedade brasileira. O compromisso dos pais com seus filhos mudou muito. O problema é que o pai ainda precisa provar que quer ser pai, e a mulher, não", diz.
Mas quando se fala em pai "tempo integral", Cuschnir admite que ainda existem barreiras.
"Vejo um constrangimento da parte dos homens que assumem essa posição. Acham que são vistos como gente que não trabalha, vagabundos", diz.
Para o psicoterapeuta, essa troca de papéis não é rara no Brasil, devido ao alto índice de homens desempregados.
"O problema é que, quando estão desempregados, os homens ficam deprimidos e não valorizam a possibilidade de exercer esse papel de 'criador'. Não vêem esse papel com prestígio."
Empregada
Os especialistas concordam que um diferencial do país em relação aos Estados Unidos nessa questão é a maior oferta de empregadas domésticas no Brasil.
Para a socióloga Sandra Ridenti, 32, nos Estados Unidos, o individualismo é mais acentuado. As famílias se restringem a pai, mãe e filhos, e os outros parentes não fazem parte do dia-a-dia.
"Aqui, a família é mais ampliada, o que favorece certos arranjos. Muitas vezes os avós até moram com a família, o que facilita que o casal trabalhe fora."
"Nos Estados Unidos, como não há empregada, os filhos desde cedo participam das atividades domésticas. Quando casam, os homens absorvem com mais facilidade a atividade de cuidar dos filhos", afirma Cuschnir.
"Como o movimento feminista nos Estados Unidos é forte, as mulheres têm mais força na hora de cobrar a participação dos homens", completa.

Texto Anterior: Congresso reúne pais que cuidam da casa
Próximo Texto: Restaurante entrega mais que peru em casa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.