São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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Mundo discute fim de fronteira comercial

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA

O mundo sem fronteiras comerciais está na primeira curva da esquina, ao menos nos projetos de homens que decidem seus destinos ou influenciam fortemente a opinião pública.
É o caso de Ian Lang, o ministro inglês do Comércio, para quem a Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), encerrada anteontem em Cingapura, foi "um bem-sucedido primeiro passo no plano do governo britânico de alcançar o livre comércio global até 2020".
Exagero? Talvez não. A tendência é essa mesmo.
Basta saber que apenas 23 países estavam presentes à sessão, realizada em Genebra, na Suíça, em que se estabeleceu o Gatt (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio), antecessor da OMC.
Em Cingapura, 128 países participaram, sem mencionar os 28 que estão na fila de espera para entrar na OMC.
Há 50 anos, o comércio de mercadorias era de apenas US$ 50 bilhões, uma quantia que um só país, modesto comerciante como o Brasil, exporta por ano hoje. O comércio mundial de mercadorias e serviços movimentou, em 1995, a formidável pilha de US$ 6,1 trilhões, um crescimento anual, desde o nascimento do Gatt, de 10%.
A Rodada Milênio
Por isso, há quem tenha até mais pressa do que o britânico Ian Lang na derrubada das fronteiras.
"A OMC deveria desenvolver uma visão de livre comércio global até 2010 ou alguma outra data-limite durante a primeira parte do próximo século", acha Fred Bergsten, diretor do Instituto para a Economia Internacional, uma das vozes mais ouvidas no mundo em matéria de comércio.
Completa Bergsten: "Tal meta é eminentemente alcançável, pois 60% a 70% do comércio mundial agora se realiza entre grupos regionais que já alcançaram comércio livre ou assinaram acordos para tanto".
É natural, assim, que sir Leon Brittan, uma espécie de ministro europeu de Comércio, se anime a propor e até dar o nome a uma nova rodada de negociações comerciais que prepararia esse mundo sem barreiras: é a Rodada Milênio.
Brittan acha que, na conferência de Cingapura, a idéia recebeu "amplo respaldo tanto de países desenvolvidos como em desenvolvimento".
Ocorre que a diplomacia brasileira percebeu que a tendência dos países mais desenvolvidos é fazer acordos plurilaterais, no âmbito da própria OMC, em torno dos bens que interessam a eles.
É o caso específico do ITA (Acordo sobre Tecnologia da Informação), que prevê a eliminação das tarifas de importação para bens de informática até o ano 2000.
Esse método elimina o que foi tradicional em todas as inúmeras rodadas de liberalização comercial já realizadas: como se negociava tudo ou quase tudo, sempre havia a chance da barganha.
Países agrícolas pediam a abertura dos mercados para seus produtos e ofereciam abrir-se para bens industriais, por exemplo.
Agora, não. A única coisa que os países não-produtores de bens de informática podiam oferecer para entrar no acordo era o seu próprio mercado.
É essa diferença entre as agendas de ricos e pobres que amarra a abertura comercial.
"Os países em desenvolvimento precisam de tempo para ajustar-se às mudanças da Rodada Uruguai, tanto em termos de regras como de pressão para abertura de mercados", admite o primeiro-ministro de Cingapura, Goh Chok Tong.
A Rodada Uruguai (86/94) provocou a mais ampla liberalização comercial da história e terminou faz muito pouco tempo.

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