São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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ONGs vêem 'mito da prosperidade'

Resultado seria negativo para países pobres

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Para quem sente diretamente os efeitos da liberalização comercial, o cenário é ainda mais delicado do que o mencionado pelo premiê de Cingapura.
"É um mito que a liberalização comercial e os acordos da Rodada Uruguai trouxeram grande prosperidade para todos", diz documento preparado por um conglomerado de 33 ONGs (Organizações Não-Governamentais) para a Conferência de Cingapura.
Entre elas, assina o Ibase, dirigido pelo sociólogo brasileiro Herbert de Souza, o Betinho.
Para os países mais pobres, então, os resultados são até negativos, segundo as ONGs: "Apesar do crescimento global generalizado nas duas décadas passadas, 70 países têm renda 'per capita' menor do que nos anos 70 ou 80 e a pobreza cresceu em muitos países".
Mas os problemas não se limitam aos países pobres ou em desenvolvimento.
Nos países ricos, há uma forte corrente de opinião que suspeita que o elevado desemprego -ou, no caso norte-americano, uma relativa estagnação salarial- se deve à invasão de produtos importados feitos em países que pagam miseravelmente seus trabalhadores.
"Se os trabalhadores acreditarem que a liberalização comercial ameaça seus empregos, desconfiarão dela", diz Charlene Barshefsky, responsável pelo comércio dos EUA.
Aspectos como esses dão pelo menos algum respaldo à avaliação feita pelas ONGs presentes a Cingapura. Ao contrário do inglês Lang, que viu um dia luminoso na sexta, as ONGs viram "um dia negro para o desenvolvimento sustentável".
Parece claro que, por enquanto, há mais barreiras entre visões que se têm do mundo do que barreiras ao comércio propriamente.

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