São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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Bancos duvidam de 'modelo exportador'

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A volta do slogan "exportar é o que importa" não faz tanto sucesso entre alguns economistas de bancos. Ouvidos pela Folha, afirmam que o país talvez esteja condenado a dar prioridade ao mercado interno, o que, aliás, não consideram necessariamente ruim.
O governo tem dedicado esforços, nas últimas semanas, a convencer críticos e bancos estrangeiros da viabilidade de um novo modelo exportador no Brasil.
Os críticos, à direita e à esquerda, consideram equivocada a política cambial que dá sustentação à estabilidade de preços. Os bancos estrangeiros temem que, numa economia com déficits comerciais crescentes (importações maiores que exportações), ocorra uma fuga de capitais que faça o governo abandonar a âncora cambial.
Primeiro, o governo dizia que o déficit era temporário; depois, assumiu a tese de que era pequeno; mais recentemente, anunciou que, na prática, será preciso conviver com o desequilíbrio por mais um ano, pelo menos. E adotou o lema "exportar é o que importa". Em suma: a importação de hoje será a exportação de amanhã e, quanto maior o estímulo às exportações, maior a eficiência do processo.
Para alguns economistas de bancos estrangeiros, entretanto, o principal atrativo da economia brasileira atualmente é a expansão do mercado doméstico. E o consenso é o de que o déficit no comércio exterior veio mesmo para ficar por muito, muito tempo.
Mesmo reconhecendo que num ambiente de mudanças tecnológicas não há clareza suficiente sobre o comportamento da balança comercial e que, eventualmente, o aumento das importações em alguns setores pode já estar chegando a um ponto limite.
Mas, se o investidor estrangeiro está vindo mesmo ao Brasil para conquistar o mercado interno, o modelo oficial corre riscos.
Em primeiro lugar, porque a entrada desse investidor pressiona as importações de máquinas, componentes e partes. O exemplo citado por um desses economistas é o setor de telecomunicações.
Há um outro complicador. Se o investimento visa o mercado interno, ao longo do tempo ele não vai gerar exportações (entrada de dólares), mas sim remessas de lucros (saída de dólares).
Esses economistas de bancos estão extremamente otimistas com o curto prazo. Em 1997, acreditam em inflação anual entre 5% e 7%, crescimento da ordem de 4% e câmbio do jeito que é hoje.
Enfim, concordam com o cenário do governo. Mas, depois de anos olhando no máximo para o próximo índice de inflação quadrissemanal da Fipe, alguns já ousam discutir mais o cenário de longo prazo. E, aí, a divergência com o governo nada tem de trivial.

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