São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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Ratos, camundongos e as novas fábricas de espermatozóides

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um grupo misto de cientistas das universidades da Pensilvânia e do Texas (ambas nos EUA) realizou experiência muito interessante sobre congelamento de espermatogônios, as células testiculares que dão origem aos espermatozóides. Para os mais afoitos a notícia abre uma ponta da cortina que descerra esdrúxulo mundo futuro em que cada camundongo fertilizará ratos e homens mortos há muito tempo poderão gerar centenas de filhos.
As experiências foram publicadas em junho último nas revistas científicas britânicas "Nature Medicine" e "Nature". Segundo um de seus autores, podem assegurar a imortalidade de qualquer indivíduo masculino.
Evidente exagero, porque imortal pode ser a linhagem, não os indivíduos que a compõem, que continuarão mortais e sujeitos à lei da vida.
No primeiro artigo, os autores relataram o congelamento dos espermatogônios. Essas células formam a camada basal dos tubos seminíferos (onde os espermatozóides se formam e por onde eles partem para deixar os testículos) e se multiplicam e modificam até formar as espermátides, que por sua vez geram os espermatozóides.
Há muito se usa a inseminação artificial, que consiste em introduzir na vagina da fêmea espermatozóides de machos selecionados para melhorar o rebanho.
Surgiu depois a possibilidade de congelar os espermatozóides e conservá-los por muito tempo, permitindo a fecundação à distância.
Agora os cientistas lograram congelar os espermatogônios e mantê-los vivos, degelando-os no momento do uso e submetendo-os a outras operações, para que eles possam formar os espermatozóides. Na verdade, o que se obteve foram fábricas de espermatozóides.
Certas pessoas podem ter que se submeter a irradiação ou quimioterapia, o que pode afetar a região genital e acarretar infertilidade. Agora, esses indivíduos podem remover os espermatogônios, conservá-los em gelo e reimplantá-los depois de passados os efeitos, sem correr o risco de perder a fertilidade.
Esses homens, como um animal de raça cujas qualidades se queiram preservar, poderão antes da morte retirar seus espermatogônios e conservá-los, e assim conseguir reproduzir-se ao infinito. Os espermatogônios se multiplicam.
No segundo artigo, os autores implantaram espermatogônios de rato em camundongos, que produziram espermatozóides de rato.
Isso abre caminho para a conservação em testículo de camundongo de espécies em vias de extinção. Outra possibilidade é obter filhos de encomenda, fazendo intervir na fecundação células matrizes de indivíduos muito especiais.
Não há muito, William Shockley, um dos inventores de transistor e Prêmio Nobel, depositou espermatozóides em banco que só os aceitava de pessoas com altíssimo Quociente de Inteligência. Essas experiências envolvem, pelo que se vê, questões de qualidade e quantidade.

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