São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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Biógrafo vê 'anti-sectarismo total'

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O pesquisador José Inácio de Melo Souza está escrevendo o que chama de "uma biografia intelectual" de Paulo Emilio.
Para efeitos de pesquisa, Melo Souza esquematizou a trajetória de Paulo Emilio em cinco etapas.
O primeiro "volume" da biografia, concluído este ano após seis meses de pesquisas e entrevistas em Paris, resultou num minucioso texto de 223 páginas.
"Paulo Emilio no Paraíso (1929-1939)" cobre os anos de ginásio, de iniciação política, a prisão e o exílio em Paris.
O segundo volume, cuja pesquisa já está feita, vai de 1939 a 1946, um período de grande atuação política (participa da "Campanha da Borracha", em Altamira) e muita criação, na revista "Clima".
A segunda estadia de Paulo Emilio na França, após 1946, é o tema do terceiro volume. É quando escreve o livro sobre Jean Vigo e exerce intensa atividade como crítico de cinema.
A quarta etapa da biografia compreende o período entre 1954 e 1965, quando Paulo Emilio deixa a Universidade de Brasília (foi um dos criadores do curso de cinema da UnB). A última etapa vai até 1977, ano de sua morte.
O pesquisador evita prever quando encerrará o trabalho.
"A vida de Paulo Emilio é um percurso aberto, um turbilhão. Ele esteve sempre muito voltado para o que o mundo oferecia, não fechado, longe das ortodoxias", diz.
Abertura rara
"Paulo Emilio era de um anti-sectarismo total. A sua abertura é rara de se encontrar num intelectual brasileiro", acrescenta.
Ao longo da biografia, Melo Souza insiste na idéia de que, mesmo nos anos 30, durante sua militância comunista, Paulo Emilio já dá sinais de uma abertura incomum entre os seus pares.
"(Paulo Emilio) nunca tinha se rendido completamente à ortodoxia do Partido Comunista", anota.
A prisão de Paulo Emilio, em 1935, é vista por Melo Souza como um episódio fundamental. "Se ele não tivesse sido preso, teria seguido uma carreira acadêmica", diz.
Pesquisador da Cinemateca Brasileira, com mestrado e doutorado na ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes), José Inácio de Melo Souza, 47, começou a levantar material para o livro em 1991.
A pesquisa só se tornou possível, diz, após a escritora Lygia Fagundes Telles ter doado à Cinemateca os arquivos do crítico.
Uma curiosidade: aluno de história, na graduação, Melo Souza resolveu, em 1975, assistir um curso de Paulo Emilio na ECA, como ouvinte. "Não gostei dele como professor".
(MSy)

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