São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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Família de Suharto domina Indonésia

RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM JAKARTA

Mesmo involuntariamente, qualquer pessoa que passa pela Indonésia faz contribuições involuntárias a uma das causas mais revoltantes na Ásia. Basta ligar a TV para receber as notícias ou por açúcar no suco de laranja matinal.
A lista continua enquanto se dirige para o aeroporto em uma das estradas privatizadas de Jacarta, e quando se viaja em um avião da linha aérea privada Sempati.
Quando se chega ao hotel de férias (o luxuoso Bali Sheraton, talvez), pode-se estar contribuindo com a causa, ou mesmo ao comprar cigarros de cravo.
Esses vários prazeres têm uma coisa em comum. Todos enriquecerão uma família -a mais rica e poderosa da Indonésia, a família de seu presidente, Suharto.
Suharto é um general que chegou ao poder em 1965 em uma verdadeira guerra civil. Criou um país unificado da diversidade de ilhas, povos e línguas da Indonésia.
Suharto está velho, e à medida que os indonésios se tornam mais ricos e bem educados, a estreita relação entre seu governo e as Forças Armadas, sua intolerância e a supressão de oponentes políticos são cada vez mais anacrônicas.
Mas o maior embaraço é a corrupção gritante na economia. Os símbolos são os "primeiros-filhos". Os Suharto influem na maior parte das esferas da vida na Indonésia; um genro é um general em ascensão na carreira, uma filha preside o partido dominante.
Ninguém sabe quanto vale seu patrimônio, ainda que os palpites variem de US$ 8 bilhões a US$ 30 bilhões, numa estimativa da CIA de 1989. Qualquer que seja o total, está concentrado nas mãos de quatro herdeiros batizados de forma memorável: os irmãos Bambang, Tommy e Sigit, e a irmã Tutut.
Os quatro estão entre os 13 empresários mais ricos da Indonésia, e os setores econômicos em que atuam variam de linhas aéreas, telecomunicações, hotéis e estradas privadas a açúcar, cravo e laranjas.
Além dos laços de sangue, os filhos estão entre os assessores mais íntimos do presidente. Um analista estrangeiro calcula que entre as companhias dos EUA o preço para o auxílio de um Suharto é de 25% a 30% do valor do contrato.
O nepotismo exagerado não é apenas ruim para a imagem do país. Como muitos indonésios compreendem, o fenômeno prejudica a economia, reduz a competitividade e aliena os investidores estrangeiros que Jacarta tenta atrair.
Apesar de sua idade e da saúde frágil, ninguém parece estar pronto para suceder Suharto, e a perspectiva de uma sucessão violenta ou incerta aterroriza muitos indonésios, entre os quais os filhos do presidente. Sua cobiça gigantesca, e a disposição do pai em atender-lhes, cheira a desespero, a um sentimento de que o tempo está se esgotando e de que o poder pode um dia não estar do lado deles.

Tradução de Paulo Migliacci

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