São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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LUTANDO CONTRA O ATRASO

A Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), encerrada sexta-feira em Cingapura, serviu para mostrar que, apesar da tendência global de abertura comercial, ainda há importantes divergências, sobretudo entre os países mais ricos e os mais pobres. Viu-se também quão distante está o Brasil do mundo desenvolvido.
Para "eles" o importante era chegar a um acordo sobre a chamada tecnologia da informação, os bens de informática, que compõem os carros e caminhões da superestrada da informação, conforme imagem usada pela chefe da delegação norte-americana, Charlene Barshefsky.
O Brasil foi convidado a participar do acordo, que prevê a eliminação total das tarifas de informação para tais bens, no máximo até o ano 2000. A delegação brasileira recusou-se a aceitar, sob a alegação de que essa área é "sensível" e necessita proteção, na forma de elevadas tarifas de importação, até o ano 2006.
Ficou, por isso, à margem do acordo finalmente alcançado (mas não subscrito pela maioria dos países presentes à conferência).
É ocioso lembrar que se trata do setor de ponta na economia mundial. O Brasil já cometeu equívocos, como a reserva de mercado na área de informática. Portanto a manutenção de tarifas elevadas nesse setor deve ser vista com cautela redobrada.
Mas a resistência a promover maior abertura agora não pode ser confundida com esse passado. A abertura unilateral parece injusta quando os países ricos protegem mercados, como o agrícola, relevantes para países em desenvolvimento como o Brasil. O debate entre ricos e pobres poderia ser resumido a duas questões: unilateralidade e velocidade.
Os países desenvolvidos pressionam por uma nova onda de liberalização unilateral em tecnologia da informação e colocam um prazo estreito. Outros, como o Brasil, defendem maior reciprocidade e menos pressa na liberalização, e em vários setores.
Praticamente todo o parque industrial brasileiro, como o de qualquer outro país, necessita de equipamentos informáticos para a sua modernização. Evidentemente, quanto maior a proteção, maiores os custos da modernização tecnológica.
Proteger setores da economia é prática recorrente em todos os países do mundo. Mas a questão é discutir se essa defesa tem uma lógica que a torne de fato temporária, reduzindo aos poucos o seu custo.
O desafio é enorme, e o Brasil, no caso, está correndo contra o tempo.

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