São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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CONTRADIÇÕES GLOBAIS

As inesperadas oscilações dos juros e das Bolsas nos Estados Unidos nas últimas duas semanas, com repercussões em todo o mundo, revelam algumas das dificuldades inerentes à globalização financeira atual.
Explicações mais imediatas por enquanto predominam: das críticas à "exuberância irracional" dos mercados feitas pelo presidente do banco central dos EUA, Alan Greenspan, à constatação de que Wall Street já subiu demais nos últimos dois anos.
Ao mesmo tempo, os que se debruçam sobre os dados da economia norte-americana ressaltam os indicadores de estabilidade inflacionária e crescimento moderado. Ou seja, dada a inexistência de riscos inflacionários, sugerem que não se deve esperar juros mais altos.
Se os juros não sobem, e a economia cresce sem inflação, com inovações tecnológicas, aumento de produtividade e estabilidade nos níveis de desemprego, nada levaria a crer na hipótese de um fim abrupto à "exuberância" de Wall Street.
Entretanto, já se podem ouvir algumas vozes que destoam dessa avaliação mais tranquila. Há dois aspectos a considerar, um interno e outro externo à economia dos EUA.
Internamente, pesquisas revelam que um número significativo de empresas enfrenta dificuldades de crescimento, mesmo porque a economia vem passando por um desaquecimento. Nesse contexto, alimentar expectativas de valorização das ações das empresas é contraditório. Afinal, cada ação é uma promessa de participação nos lucros. É impossível acreditar que, com os lucros em queda, os dividendos possam aumentar.
Externamente, apesar da enorme disponibilidade de recursos para investimento global, mudam as relações entre as grandes economias. Japão e Alemanha dão sinais de recuperação. Devem portanto absorver poupanças que antes se destinavam à especulação em Nova York.
Wall Street responde tanto aos movimentos de capitais globais quanto às condições locais da economia dos EUA -dimensões que também podem tornar-se contraditórias.

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