São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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Número de doentes pode ser 48% maior

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O número de doentes de Aids que o Brasil já teve pode passar de 130 mil, 48% a mais que os 88 mil oficialmente notificados pelo Ministério da Saúde.
O salto nos números vem sendo revelado por um sistema de monitoramento de internações e óbitos em cerca de 40 cidades.
Desde que o sistema foi implantado, há cinco meses, o total de casos notificados por trimestre passou de 2.000 para 5.000. Metade dos doentes tinham adoecido em 1996. Os outros apresentavam sintomas havia anos.
"A tendência é que nos próximos trimestres esse número cresça ainda mais", diz Pedro Chequer, coordenador-substituto do Programa Nacional de Aids.
Segundo ele, o serviço de vigilância epidemiológica em Aids -que contabiliza os casos- ainda é precário. Na soma oficial entram os doentes registrados desde 1980. Os portadores que ainda não caíram doentes não são contados.
Chequer estima que pelo menos 12 mil casos de Aids já foram registrados nos Estados, mas ainda não chegaram a Brasília. E, para ele, de 20 mil a 30 mil doentes não foram identificados pela rede pública. Alguns técnicos acham que esse contingente passa de 40 mil.
Parte desses casos está sendo descoberta agora, com o controle em 40 cidades. Estagiários são contratados para vasculhar prontuários de hospitais e sair à caça do paciente -e do médico- quando a doença sugerir um caso de Aids.
O rastreamento está sendo feito também nos atestados de óbitos.
Pedro Chequer falou ontem na abertura do 1º Congresso Brasileiro de Prevenção das DST-Aids, em Salvador. Segundo ele, a subnotificação é tão grande que a verba destinada a medicamentos para este ano considera 50 mil doentes, contra os oficiais 36 mil.
Relatório
Depois de dois meses de trabalho, o programa concluiu um extenso documento que aponta para a "feminilização, a pauperização e a interiorização" da Aids. Parte do documento será divulgada hoje.
Ele destaca o aumento do número de mulheres e de pobres contaminados. Na periferia de São Paulo, já há uma mulher para cada homem infectado.
Outra indicação é a rota do HIV. A epidemia está indo para as capitais do Nordeste, pelo litoral. Dali, está se espalhando para o interior.
O documento assinala que o combate à Aids é prioridade de governo. A União pretende gastar R$ 300 milhões em 97, o mesmo que gastou nos últimos dois anos.
O ministério pretende também distribuir 250 milhões de camisinhas, dez vezes mais que nos dez últimos anos somados.

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