São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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Doença em presídio ameaça a população

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO ESPECIAL

A Aids entre os presidiários vem se tornando uma grande ameaça às populações que vivem fora das celas. Até agora, as secretarias responsáveis pelos presos vêm optando por ignorar o perigo, fazendo de conta que a doença está restrita aos muros da prisão.
Uma pesquisa realizada em dois presídios de Sorocaba (87 km de São Paulo) mostrou que não é assim: muitos dos cerca de 1.200 presos têm relações com duas a três pessoas diferentes por ano, sem contar a mulher ou companheira.
Entre esses detentos, 12,5% estão infectados. No complexo penitenciário do Carandiru, de São Paulo, o índice de contaminados sobe para 17,3%. Em Estados do Nordeste, cai para menos de 5%.
A pesquisa de Sorocaba foi feita pelo médico José Ricardo Pio Marins, que prepara doutorado na Unicamp sobre Aids em população carcerária e assessora o Ministério da Saúde nessa questão.
"A Aids nas prisões é uma bomba que vai estourar aqui fora", disse Marins no congresso de prevenção que acontece em Salvador.
Em média, os detentos de São Paulo ficam presos por um período de 30 meses. Depois vão para as ruas ou retornam para suas famílias. "A prevenção e assistência devem ser feitas enquanto estão lá dentro", diz.
Salvo raras exceções -como o trabalho do médico Drauzio Varella na Casa de Detenção de São Paulo-, nada é feito nos presídios. Segundo Marins, a maioria dos Estados ainda resiste à distribuição de camisinha. E o preso que cai doente recebe o pior tratamento possível. "Há um desrespeito total dos direitos humanos."
Por exemplo, desde 1988 o Ministério da Saúde vem colocando AZT à disposição dos Estados.
Os remédios, no entanto, não são requisitados pela maioria dos presídios. Com o coquetel anti-Aids, que também estará à disposição dos presos, deve acontecer a mesma coisa.
"Parte-se do princípio de que os presos não têm direito a tratamento algum", afirma Marins.
A situação é ainda mais grave nos presídios femininos. Entre as mulheres presas em São Paulo, um quarto delas está infectada.
(AB)

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