São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Câmeras, luzes: redação"

GUSTAVO BERG IOSCHPE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Convencer vestibulando de que redação não é um monstro é como explicar para torcedor fanático que o Parreira vai voltar a ser técnico da seleção brasileira.
Falou em redação e o pessoal já treme, por uma série de razões: acham que correção de redação é subjetivo; têm medo da liberdade irrestrita em um sistema que tá sempre impondo escolhas entre alternativas; ficam assustados com a perspectiva de serem testados em áreas que não se aprendem em alguns meses de cursinho: conhecimento da linguagem e capacidade de expressão.
Mas todo esse pânico é besteira. O Parreira não vai -tomara- voltar para a seleção, assim como a redação é muito simples.
Só tem um jeito de escrever bem: ler (livros, de preferência). Isso é óbvio. Para quem não leu durante toda a vida, uma boa saída nessa emergência é dar uma olhada em crônicas ou contos. Não gasta muito tempo e ajuda. Agora, você tem que tirar da cabeça que redação de vestibular é um negócio complexo, que exige talento.
Redação exige articulação de idéias de uma forma razoável. Não estão lhe pedindo literatura: estão querendo que você mostre que consegue se expressar coerentemente, usando argumentos lógicos e com um linguajar decente.
Aí é que complica, para alguns. Saem os erros mais estapafúrdios. Gente que quer impressionar os corretores e se perde na jogada. Exemplos verídicos: "carros pólidos e encerrados", "agente quiria ser uma esseção da régua" e por aí afora. Também tem uns absurdos de conteúdo, tipo: "Getúlio Vargas, comandando as Diretas Já". Tem ainda aquele pessoal criativo que só usa clichês: "Foi amor à primeira vista, eu sabia que nós fôramos feitos um para o outro. Eu insistia, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, mesmo sabendo que ela era muita areia pro meu caminhãozinho. Mas a pressa é inimiga da perfeição, apressado come cru e de grão em grão a galinha enche o papo." Pô, aí não dá.
Expresse as suas idéias. Se não tiver idéia nenhuma, invente, mas não copie. Não entre nessa de querer impressionar o corretor, porque nos bons vestibulares a correção é itemizada, você ganha e perde pontos de acordo com cada parte (gramática, estrutura etc.) e não pelo todo.
Se preocupe, isso sim, em ser claro e não cometer erros crassos que assustam o corretor.. Quando você quiser usar uma palavra e não souber sua grafia exata, substitua-a por um sinônimo.
Nada é imexível, como dizia um grande "filósofo" tupiniquim. Ou, conforme a turma original: "prudência e canja de galinha..."

Texto Anterior: Vestibulares pedem aplicação prática das normas gramaticais
Próximo Texto: Programa da UnB é opção ao vestibular
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.