São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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Arlindo Jr.; Bois de Parintins; Chico da Silva; Regional Vermelho e Branco; Klinger Araújo; Carrapicho

Arlindo Jr.
O amazonense Arlindo Jr. é o levantador do boi Caprichoso, mas abre o disco com "Um Cano Novo", tema do Garantido. É que fora do bumbódromo, em shows e discos, um levantador de boi pode cantar o "contrário". Foi ele o escolhido como o porta-estandarte da toada amazônica no sul maravilha e para inaugurar a DC-Set Discos. Gravado ao vivo em dois dias em Manaus, o disco homônimo tem produção de Mazzola, que lhe deu uma cara "menos regional", com ingerências do pop e de outros regionalismos (carimbó, axé etc.). Traz sua versão do hit "Vermelho".

Bois de Parintins
Arlindo Jr., David Assayag, Tony Medeiros, Regional Vermelho e Branco. Todo mundo que importa está no CD "Bois de Parintins - Garantido & Caprichoso" (Atração), uma coletânea mais que bem-vinda para entrar na selva rítmica amazônica sem riscos. O CD começa com "Pássaro Sonhador" (presente no novo disco de Fafá de Belém, aqui com Arlindo Jr., em versão de estúdio) e traz ainda empolgantes versões de "Andirá" e "Haximu Quer Viver", duas faixas em que a ideologia da toada aparece bem evidente: cantos indígenas bem ritmados e politizados.

Chico da Silva
O compositor é o mais romântico, o mais brega, o mais eclético e o mais poeta dessa leva de toadeiros. É um achado para um sul sem preconceitos. Seu timbre de voz -mais grave- lhe dá espaço para cantar seus temas românticos (a grande maioria de sua autoria) e investir no brega e no pagode (como em "Castelo de Amor"). Chico tem ainda o trunfo de ser o compositor do hit "Vermelho" (presente no disco "Toada Amazônica", CDS Discos), dos superlativos "vermelhaço, vermelhusco, vermelhante, vermelhão" e de "Estrela", que traz os verbos "estrelecer" e "estrelejar".

Regional Vermelho e Branco
As cores não deixam dúvidas, a formação canta pelo boi Garantido e mostra em "Dança da Tribo" (Atração) alguns dos melhores temas da agremiação (e não pense que são aquelas bobagens repetitivas dos sambas-enredo). Preste atenção em "Alegria", que traz em seus versos um ideal de vida ("Na festa do meu boi/ O tempo é relativo, não absoluto/ Garantido entra em cena/ Uma hora parece um minuto"). O CD traz ainda um glossário que explica, por exemplo, que "hanaré caruê aripói arueira" significa "o sol que toca a copa das árvores não alcança o chão".

Klinger Araújo
Sem a mesma energia de Arlindo Jr., David Assayag ou Regional Vermelho e Negro, o compositor Klinger Araújo chega como uma das apostas da Paradoxx Music. Acompanhado em seu quarto disco ("Réquiem") pelo grupo Encanto da Ilha, faz parte do segundo time da toada. As canções possuem letras pouco convincentes ou empolgantes e sua voz é formal e linear demais para um ritmo enérgico como a toada. Parece um Oswaldo Montenegro puxando um samba-enredo. Mesmo a bela "Pesadelo dos Navegantes" (ótima com Arlindo Jr.) aqui aparece chocha.

Carrapicho
Graças aos franceses, que descobriram o Carrapicho e seu "Tic, Tic Tac", os brasileiros descobriram a toada. Mas os agradecimentos terminam aí, já que o grupo passou por uma grave contaminação rítmica para ser digerido pelo Primeiro Mundo. As faixas "Festa de um Povo" e "Festa do Boi-Bumbá" (nome ao disco da BMG), por exemplo, precisaram ganhar dispensáveis violões flamencos para convencer os europeus: o que era toada virou "salsa e merengue". Mas nem mesmo a lavagem cerebral tira a força do boi, que ressurge em lamentações como "Rogai por Boi".

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