São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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Governo soropositivo

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O governo parece bichado. Quando alguns artistas de repente emagrecem 18 quilos e ficam com aspecto patibular, suspeita-se logo de Aids, embora o sujeito continue sadio, apenas com diabetes. Mas a plebe fica sempre com a impressão de que o negócio é mais sério.
Ontem, lendo as folhas, fiquei sabendo que dois ministros estão com o nome na boca das matildes. Luiz Carlos Santos é acusado de ter pedido (ou ordenado) a tal lista que violou o segredo bancário de deputados que ainda não estão convencidos da necessidade de se dar reeleição a FHC.
O ministro se desaperta e acusa Eduardo Jorge, braço direito de FHC, que tem status de ministro (ou deve ter, não estou por dentro dessas filigranas). Evidente que, doa a quem doer, haverá punidos: o funcionário que digitou a lista e o contínuo que levou a lista de uma mesa para outra.
Outro ministro na berlinda é Gustavo Krause. Mesmo descontando os exageros da acusação feita contra ele, sobra muita coisa suspeita no seu entusiasmo com empreiteiras. Vamos ver no que vai dar.
O terceiro ministro -Bresser Pereira- peca pela boca, pelo menos nada de grave se diz contra ele, a não ser a incontinência verbal e uma certa barbeiragem operacional. Agora criou caso com o STF.
Há tempos, ele escreveu carta para o "Painel do Leitor" considerando-me indigno de ocupar este canto de página. Não lhe respondi -nem era caso de resposta. Dois anos depois, ele me escreveu uma carta pessoal, desculpando-se e garantindo que mudara de opinião a meu respeito. Anda mal informado.
Mas o pior mesmo é FHC, que continua desvairado em sua ambição. Leio muitos elogios sobre a "determinação" de suas manobras. Aqueles que gostam ou apreciam os lances da política podem achar bacana essa afobação pelo poder. Quem não gosta só pode lamentar o péssimo exemplo de falta de ética que ele está dando à nação.

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