São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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Muita fumaça, pouco fogo

VALDO CRUZ

Brasília - O Congresso Nacional é, muitas vezes, uma Casa histérica. Essa característica está se manifestando novamente na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado.
Um cidadão comum, que não conhece como funciona o Legislativo, deve imaginar que a base governista está a ponto de explodir. Senão, vejamos.
Na Câmara, o Palácio do Planalto apóia o candidato do PMDB, o deputado Michel Temer. Só que o próprio partido do presidente FHC, o PSDB, defende outro nome, o do deputado tucano Wilson Campos.
No Senado, FHC, a contragosto, articula a eleição do pefelista Antonio Carlos Magalhães. O PMDB, um de seus aliados, lançou como candidato à presidência da Casa o senador Iris Rezende. Por sinal, um nome que agradava a FHC.
A impressão é que os partidos aliados vão se digladiar, rachando de vez a base governista. Seria o mesmo que sepultar a emenda da reeleição, aquela que pode dar a FHC o direito de disputar um novo mandato e ficar no Planalto por oito anos.
O governo sabe muito bem disso e, nos bastidores, está trabalhando a todo vapor. Até o ministro Sérgio Motta (Comunicações), que andava meio recolhido desde a eleição municipal, voltou à cena.
Seu gabinete virou um dos pontos de encontro da articulação para acalmar os ânimos dos governistas. Serjão acredita que, apesar das resistências, acabará convencendo o seu partido a abandonar o colega Wilson Campos e a apoiar Temer.
No Senado, o primeiro passo para consolidar a candidatura de ACM já foi dado com a adesão ao PFL do até então peemedebista Gilberto Miranda. Um cacique dá a senha do que vai acontecer na Casa. "Disputa aqui não existe. No final, tudo se resolve."
Ou seja, as disputas de agora são, na verdade, uma forma de ocupar espaço. Os perdedores serão, com certeza, consolados pela caneta presidencial. Alguns devem virar ministros.

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