São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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A medicina não está enferma

JUAREZ MORAES AVELAR

Há orquestrada divulgação envolvendo médicos, desde acusações de assédio sexual, estupro e corrupção até cobrança "por fora" de atendimento pelo SUS. Obviamente, esses fatos repercutem de imediato.
É preciso dissociar notícia escandalosa de fatos verdadeiros. Quando não comprovada a acusação, dificilmente a verdade apaga a repercussão. Os problemas de conduta ética e honestidade devem ser apurados; os culpados, responsabilizados e, se necessário, punidos.
A quem interessa desmoralizar a classe médica? Certamente não à população, que necessita de tratamento médico. Agredir visceralmente toda a categoria significa colocar os pacientes em situação de insegurança diante dos profissionais. E isso é injusto, porque a medicina brasileira pode ser equiparada à dos países de maior progresso técnico e científico.
Preocupa que interesses mercantilistas alimentem um quadro deplorável, no qual a classe médica está no centro das acusações. Corre-se o risco de a medicina brasileira sofrer os mesmos entraves da norte-americana. Nos EUA, já existe o clima de que o paciente de hoje pode ser um adversário ou inimigo do médico amanhã. Um fator responsável por essa situação é o seguro médico, que não oferece segurança aos médicos nem à população. Talvez seja isso que se pretenda implantar no Brasil.
O desmando na saúde tem suas raízes na estrutura complexa e incontrolável pelo poder central. Como mais de 5.000 hospitais podem ser adequadamente coordenados por um ministério? O problema é difícil e crônico. A solução, eminentemente política.
Uma proposta é reduzir a máquina federal: a) transferir aos municípios a responsabilidade direta pela assistência médica primária à população menos favorecida; b) aos Estados, assistência médica secundária e terciária; c) ao governo federal, campanhas de vacinação, gerenciamento da medicina preventiva e toda a gama de gestões em âmbito nacional.
Há superposição de atribuições. Tanto o federal quanto o estadual, o municipal, o privado-conveniado e os hospitais universitários prestam assistência médica semelhante. Conclusão: nenhum pode responder pelos defeitos.
É inadmissível que um médico receba R$ 2 por consulta de paciente do SUS e R$ 58 por parto, e que um hospital conveniado receba R$ 3,24 por diária de paciente internado. Cabe uma indagação: não há forças interessadas em destruir o sistema público para privatizar a saúde? A população bem informada poderá julgar os fatos e não ser massa de manobra.

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