São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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O risco no setor elétrico

LUÍS NASSIF

Um dos grandes dilemas para a privatização das estatais do setor elétrico é o sistema de cálculo de preço.
Em geral, tem-se adotado no cálculo dos preços mínimos o fluxo de resultados futuros esperados da companhia, descontados por determinada taxa de juros.
Sem financês, a história é mais ou menos a seguinte:
1) Estima-se que uma companhia proporcione R$ 10 milhões de lucros por ano.
2) Como é uma estimativa, para correr esse risco, o investidor irá exigir uma remuneração maior do que a que obteria em uma aplicação sem risco, de renda fixa. Digamos que seja de 10% ao ano. Chama-se tecnicamente a esse valor de taxa interna de retorno.
3) O cálculo do investimento é efetuado.
4) Quanto eu precisaria aplicar, a 10% ao ano, para obter R$ 10 milhões de rentabilidade pelos próximos dez anos? Esse valor é chamado de Valor Presente do investimento -e equivale ao preço de venda da companhia.
No exemplo, o valor seria de R$ 62 milhões.
Mas suponha que o risco do negócio seja maior e o investidor só aceite se tiver a expectativa de um ganho de 15% ao ano. Como os lucros serão os mesmos, tem-se que reduzir o valor a ser pago para aumentar a rentabilidade.
Nesse caso, o valor cairia para R$ 50 milhões. Ou seja, quanto maior a taxa de risco, menor o valor a ser pago.
Longa vida
Uma hidrelétrica pode durar cem anos, sem necessidade de grandes investimentos adicionais.
Em geral, esse investimento em manutenção -tecnicamente chamado de "taxa de depreciação"- é da ordem de 5% ao ano. Para todos os efeitos, depois de 20 anos, a soma dos investimentos anuais de manutenção equivalerá a uma nova hidrelétrica.
O problema nessas contas é que, dependendo da taxa interna de retorno (ou seja, do risco do negócio), só os primeiros dez ou 15 anos anos de faturamento da companhia serão captados pelo preço.
Na Alemanha, a taxa interna de retorno de uma hidrelétrica é da ordem de 8%. Uma hidrelétrica que renda US$ 10 milhões ao ano, por 20 anos, para apresentar uma taxa de retorno da ordem de 8% deverá ser vendida por R$ 67 milhões.
Se se tomarem por base períodos de 20 anos, seu valor sobe para R$ 98 milhões (46% a mais); em 50 anos, para R$ 122 milhões (82% a mais).
Incertezas
Mas suponha que haja muitas incertezas futuras, acerca da estabilidade do país ou do marco regulatório do setor, e os concorrentes passem a exigir uma taxa interna de retorno da ordem de 15%:
Se se levar em conta o fluxo dos próximos dez anos, o valor da companhia será de R$ 50 milhões -ou R$ 17 milhões a mais. Por 20 anos, será de R$ 63 milhões (ou 23% maior). E, por 50 anos, de R$ 67 milhões, ou 6% a mais do que a cotação anterior.
É como se o investidor pagasse apenas 6% para manter a companhia por mais 30 anos.
Não se trata de visão conspiratória, mas da necessidade de reduzir ao máximo as incertezas, para que as taxas de retorno utilizadas pelos investidores para cálculo de seus lances sejam as menores possíveis.
Cada ponto percentual a mais na taxa de risco representará 6% a menos no valor da companhia.
Pitta
Nos últimos dias, o anunciado acordo entre os "anões das regionais" e o prefeito de São Paulo, Paulo Maluf -com o endosso do prefeito eleito, Celso Pitta- representa um recuo de suas intenções de moralizar a administração das regionais.
Pode ser meramente tático -já que decisões dessa ordem não se anunciam, efetivam-se. Mas Pitta terá que dar muitas provas concretas de suas intenções para diluir a má impressão desse acordo.
Hemocentro
No perfil de José Luiz Portella, na coluna de ontem, atribuiu-se a ele a excelência alcançada do Hemocentro de São Paulo. Acabou-se cometendo injustiça contra a figura maior do Hemocentro, o médico Dalton Fischer Chamone.

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