São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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"A vida de verdade é muito breve"

DA REDAÇÃO

Em entrevista publicada pelo jornal espanhol "El País" em setembro, Marcello Mastroianni discutiu a velhice, a morte e a sedução em um bate-papo com o ator Vittorio Gassman e o jornalista italiano Eugenio Scalfari, fundador do diário "La Repubblica".
Na entrevista, Mastroianni falou sobre suas relações amorosas. "Se fosse por mim nunca romperia com nada e continuaria com todas".
Leia abaixo trechos da entrevista.
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VELHICE - "Isso não se decide. Cai em cima de você quando você menos espera. Em certo momento começam a lhe chamar de senhor. Senhor por quê? E respondem: 'Por respeito'.
Dá vontade de dizer que senhora é a mãe, mas entendo que algo aconteceu, que alguma coisa mudou. Como uma peça de uma engrenagem que já não funciona como antes. Como uma ruga no canto da boca ou no meio do rosto, não sei... Um modo distinto de olhar as mulheres, mais doce, menos agressivo."

PERSONAGEM - "Me cansa essa história de atores que estudam o papel meses e meses para entrar no personagem e se impregnar dele, passam um tempo infinito em um convento, engordam e emagrecem para entrar melhor na situação e, terminado o trabalho, precisam de outros meses de descompressão para esquecer, para voltarem a ser eles mesmos.

SEDUTOR - "Por favor! Se há um papel que nunca representei foi justamente esse. Não se fala de sedução, é algo que carregamos na alma."

FELLINI E A SEDUÇÃO - "O verdadeiro sedutor era ele, que adorava viver por uma pessoa interposta. Uma dessas pessoas interpostas fui eu e, por isso, ele me atribuía capacidades e aptidões que nunca tive."

THATCHER - "Minha experiência, amores à parte, me leva à conclusão de que a mulher é superior aos homens. É mais forte fisicamente e também é mais inteligente, mais sensível e mais capaz de carinho e de amor. Em minha opinião, as mulheres deveriam governar o mundo. Pense em Thatcher ou em Golda Meir."

VIVER MAIS - "Um prolongamento já me consolaria. Me irrita muito a idéia de ter que desaparecer, porque, além disso, não tenho uma fé que me sustente. Ainda mais porque, meio abatido como estou, preferiria ficar aqui um pouco mais. Até mesmo um bom bocado."

VIVER VÁRIAS VIDAS - "Se esse é um privilégio, nós o compartilhamos com muitos outros. Para começar, com vocês, jornalistas. Vocês também vivem, de certo modo, as vidas de pessoas cujos feitos contam e cujos pensamentos interpretam.
Isso também acontece com escritores, cineastas e teatro. E até diria que isso ocorre com todas as pessoas e seres vivos. Todos estamos dotados de fantasia. Todos nós imaginamos histórias das quais somos protagonistas, paixões que, na verdade, não temos. Cultivamos ilusões inexistentes.
Se isso é viver muitas vidas, asseguro que não é um privilégio dos atores. A verdade é que a vida, a de verdade, é muito breve."

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