São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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Glenn Close convence até sua filha

JEANNE WOLFE

Glenn Close está rindo da idéia de representar a mulher mais malvada a aparecer na tela do cinema, Cruela de Vil, na versão com atores de verdade do desenho "Os 101 Dálmatas".
"Eu sabia que estava dando certo quando minha filha Annie disse que não gostava de mim", sorri Glenn. "Ela ficava furiosa comigo quando eu gritava com alguém ou dizia que ia transformar os filhotinhos dálmatas em casacos de pele. Acho que eu a assustei um pouco, o que é exatamente como as crianças deveriam reagir a Cruela."
A filha de Close, de 8 anos, acompanhou-a a Londres para a filmagem de "101 Dálmatas".
Close foi criada em Greenwich, Connecticut, com um irmão e duas irmãs. Seu pai era um importante cirurgião.
"Meus pais eram idealistas, mas também humanistas", diz. "Eles me legaram um sentimento de que preciso retribuir e de que as coisas materiais não são tão importantes. E me deram grande respeito pela natureza, isso foi sempre parte importante da minha vida."
Close vê a apavorante Cruela de Vil como veículo perfeito para estimular o respeito pela natureza nas audiências familiares que, ela espera, corram para assistir "Os 101 Dálmatas".
"Acredito que estamos destruindo nosso meio ambiente", diz, "e Cruela é uma espécie de essência destilada dessa força destrutiva. Ela não tem sentimentos para com a natureza, não tem simpatia para com qualquer criatura do planeta exceto ela mesma. Espero que as crianças compreendam o quanto Cruela está errada e por que ela perde no final".
A maldosa De Vil, que olha filhotinhos dálmatas e vê casacos de pele, pode ter sido deliciosamente interpretada por Close, mas está muito distante do amor da atriz por todas as criaturas, grandes e pequenas, em sua vida real.
Close revela que, no estúdio, quando estava roubando cenas como Cruela, até mesmo os dálmatas pareciam convencidos de que ela não estava representando.
"Em uma cena, eu entro violentamente e passo a língua pelos lábios frente à possibilidade de roubar os dálmatas recém-nascidos para realizar minha fantasia sobre peles", ela relembra.
"A cadela que fazia o papel de Perdita, a mãe dálmata, arruinava as tomadas pois bastava uma olhada em minha direção para sair com o rabo entre as pernas."
Glenn ri ao admitir que se acostumou a ser confundida com as mulheres que retratou na tela, especialmente a vingativa e psicótica amante de "Atração Fatal".
Se Close teve de exagerar um pouco para interpretar de forma adequadamente desprezível a caricatural Cruela, ela recentemente foi ao outro extremo ao co-estrelar em "In the Gloaming", produção de HBO em que Christopher Reeves fez sua estréia como diretor.
"É um filme pequeno, e Christopher de certa forma nos colocou sob o microscópio, descendo ao nível básico de como as pessoas falam e se relacionam", diz.
"Trabalhar com ele foi inspirador. Ele não só é um grande diretor como um homem gracioso e cheio de coragem. Foi uma experiência maravilhosa e uma mudança de ritmo agradável."
De fato, Close não nega que desempenhar o vil papel de Cruela de Vil custou-lhe alguma coisa. "Depois de berrar tanto e ser tão odiosa, sem mencionar o uso de saltos de 12 centímetros e de um espartilho impossivelmente apertado por semanas a fio, eu estava pronta para um repouso", diz.
"Levei Annie à caça de travessuras ou gostosuras no Halloween e eu sabia que a única fantasia que não usaria seria a de Cruela. Peguei uma máscara de caveira decorada com peles de coelho."
Ela acrescenta então, com uma risada: "Pêlo falso de coelho, é claro".

Tradução Paulo Eduardo Migliacci

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