São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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1 dálmata é suficiente para 'infernizar' o apartamento

Especialista afirma que cachorro não é muito obediente

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

Se você mora em apartamento, nem pense em ter um dálmata. Fique babando com os filhotinhos do filme, sofra com o choro da criançada, mas resista. Será melhor para você e para o cão.
Essa, pelo menos, é a opinião da maioria dos especialistas em cães ouvidos pela Folha.
Quem insistir na idéia deve pensar primeiro em como colocará os 25 kg de energia branca e preta no apartamento, garantindo exercícios três vezes ao dia.
Para ter ordem na casa -o bicho é bagunceiro-, é preciso muita paciência, carinho e energia. Em compensação, o cão é carinhoso, brincalhão, bonito e nobre.
Os treinadores dizem que os dálmatas possuem "alguma" adestrabilidade. "Alguns têm facilidade para aprender, mas nem sempre o dálmata é obediente. Ele é mais moleque", diz Elias Teixeira de Oliveira, treinador há 20 anos.
"São cães sensíveis, querem exclusividade no carinho. Alguns têm problemas de audição", afirma Gilberto Miranda, dono da Acãodemia.
Segundo ele, os dálmatas aprendem, mas no seu ritmo. "Se um labrador demora de três a quatro meses para ser treinado, um dálmata leva entre seis e oito meses."
Protetor solar
Além do treinamento, o dono também tem que cuidar da saúde do cãozinho. Nesse terreno, o dálmata também tem suas particularidades.
"O cão de pelagem clara sofre nos trópicos. Alguns têm falta de pigmentação no nariz e em volta dos olhos, exigindo mais cuidados", diz a veterinária Silvia Aratangy. "Estou sempre passando protetor solar nos dois que cuido atualmente."
O dálmata é o único cão que produz ácido úrico. Em caso de excesso, pode ter algumas complicações, como gota e problemas de pele. O problema é controlado com alimentação adequada.
Quem enfrenta todas essas dificuldades garante que vale a pena. "Eu me apaixonei pela raça quando assisti o filme. Era criança, tinha uns 5 ou 6 anos", diz o criador João Paulo Pelizari, 37, dono de oito dálmatas adultos.
"Sou fissurado pela raça. Cada vez que sai uma ninhada, fico observando. Eles nascem brancos. Depois, vão saindo as primeiras pintas. É um espetáculo", conta.
Enfeite
O dálmata existe há quase 4.000 anos. Há registros em tumbas egípcias de cães pintados que seriam ancestrais dos modernos dálmatas.
A raça teria se espalhado pela Europa levada pelos ciganos, segundo Hilda Drumond, diretora da Associação Cinológica do Brasil.
No século passado, na Inglaterra, dálmatas acompanhavam bombeiros, como mascote ou auxiliando em resgates. Também foram usados como enfeite, acompanhando carruagens.
Hoje, o dálmata é enquadrado na categoria de cão de companhia. Mas vem sendo cada vez menos usado.
A raça teve um boom no Brasil há cerca de 30 anos, quando saiu o primeiro filme da Disney. Desde então, vem decaindo.
Já houve exposições com 50 a 80 exemplares. "Atualmente, conseguimos colocar 20 ou 25 animais, no máximo", diz Luiz Alberto Cepeda, primeiro-secretário do Dálmata Clube de São Paulo.
Também são poucos os exemplares em treinamento. "Estou treinando dois atualmente", diz Gilberto Miranda, que tem 30 cães em treinamento.

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