São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996 |
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August expõe origens sexuais do fanatismo em "Jerusalém" Bille JOSÉ GERALDO COUTO
No final do século 19, uma onda de fanatismo se espalhou pela América e pela Europa, levando muitos cristãos a emigrar para Jerusalém, onde esperariam a nova vinda do Senhor. É nesse contexto que se ambienta o novo filme do dinamarquês Bille August, que depois de ganhar o Prêmio Oscar de melhor filme estrangeiro por seu "Pelle, o Conquistador" dirigiu o bergmaniano "As Melhores Intenções" e derrapou na invertebrada produção internacional "A Casa dos Espíritos". Em "Jerusalém", inspirado em romance da escritora sueca Selma Lagerlof, ganhadora do Nobel de 1909, August volta a seu elemento: a Escandinávia rural de cem anos atrás. Numa aldeia da Suécia, a vida pacata da população local é convulsionada pela chegada de Hellgum (Sven-Bertil Taube), pregador fundamentalista vindo dos EUA. Com uma retórica inflamada, Hellgum desperta o misticismo popular, funda uma comunidade de fanáticos e leva todos eles para Jerusalém. Assim, divide famílias, afasta pais de filhos, noivos de noivas etc. Separa, sobretudo, o par romântico central do filme, Gertrud (Maria Bonnevite) e Ingmar (Ulf Friberg). Mas não é só isso: ao longo de suas quase três horas de duração, "Jerusalém" dispõe um grande número de personagens, detalhes e subtramas -tudo girando sutilmente em torno do tema da religião como contraface do desejo sexual. O modo como Bille August narra seu drama é clássico, mas não acadêmico. Apesar da longa duração, o filme tem uma objetividade narrativa notável: as imagens são expressivas; as elipses, precisas. A direção de fotografia tira o máximo proveito dramático da paisagem (a bucólica aldeia sueca à beira-rio, a dourada aridez da Palestina) e dos rostos eloquentes dos atores. E que atores! Da estreante Maria Bonnevite ao tarimbado Max Von Sydow, passando pela mulher do diretor Bille August, Pernilla August (como irmã de Ingmar), todos eles exalam vigor e paixão -os atributos mais evidentes desse belo filme. Filme: Jerusalém Produção: Suécia, 1996 Direção: Bille August Com: Ulf Friberg, Maria Bonnevite, Pernilla August, Max Von Sydow Quando: a partir de hoje no cine Vitrine Texto Anterior: 'Daylight' tem efeito especial e Stallone Próximo Texto: Interior recebe "crateras" de Nuno Ramos Índice |
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