São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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Presidente será o maior prejudicado pelo sequestro

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O antropólogo e sociólogo peruano Rodrigo Montoya acredita que Alberto Fujimori será o "grande perdedor" do sequestro em Lima. Para ele, o presidente perde em quase todos os cenários prováveis para o desfecho da crise.
Doutor em sociologia pela Universidade Sorbonne (França) e professor de antropologia da USP, Montoya diz que o sequestro vai causar a Fujimori seu maior revés político. De todos os cenários, Fujimori só ganharia em um.
Segundo Montoya, o presidente sairia vitorioso se conseguisse montar um "esquema militar espetacular", a ponto de invadir a residência do embaixador, matar os sequestradores e libertar os reféns sem causar baixas entre eles.
"Mas uma operação militar desse tipo é praticamente impossível", diz Montoya. Para ele, o desfecho mais provável será a negociação do governo com os guerrilheiros. Neste caso, segundo ele, Fujimori "perde terrivelmente".
"Com a negociação, o mundo vai saber que o maior fantasma do Peru, a guerrilha, continua existindo", afirma. "Fujimori alardeou no Peru e para todo o mundo que a guerrilha estava extinta."
Montoya também é professor da Universidade San Marco, em Lima (Peru), e acompanha a história da guerrilha peruana desde o início desses movimentos. Ele é de Ayacucho, sul do Peru e berço do Sendero Luminoso, principal grupo guerrilheiro do país.
Para Montoya, nunca uma ação guerrilheira no Peru foi tão favorável aos seus autores. "Os diplomatas estrangeiros são muito importantes. Não são líderes indígenas que os militares são acostumados a matar em qualquer lugar do país."
Efeito econômico
Avaliações feitas em Lima também apontam para consequências econômicas. Acredita-se que a retomada de ações guerrilheiras afugentem investimentos estrangeiros que voltaram ao Peru com o suposto fim do terrorismo.
Esses investimentos eram feitos principalmente por empresários japoneses. A origem de Fujimori teria estimulado tais investimentos. Agora, as relações entre os dois países tendem a se deteriorar, se o desfecho da crise for violento.
As análises também tinham como o alvo a história do grupo responsável pelo sequestro. O Tupac Amaru, segundo as avaliações, foi responsável por muitas operações terroristas, mas sem semelhanças com a ação do Sendero Luminoso.
Ao contrário do Sendero, o Tupac Amaru não é tido como "sanguinário". Seus líderes são duros politicamente, mas têm habilidade e sabem negociar. Foram espertos até na hora de escolher a representação do Japão como alvo.
Por causa de todos esses fatores, as análises feitas ontem em Lima são de que o quadro é mais favorável a eles do que a Fujimori.

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