São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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Fujimori depende de economia e terror

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Na tarde de anteontem, a Bolsa de Valores de Lima suspendeu as operações. Motivo: espetacular queda das cotações em consequência do ataque do MRTA à Embaixada do Japão em Lima.
Esse dado ilumina melhor do que qualquer outro a vinculação que existe entre os dois pilares do prestígio do presidente Alberto Fujimori, nos quais se apoiou para conseguir um segundo mandato.
Um pilar está representado pelo saneamento econômico. O outro, pela vitória sobre a luta armada.
Na noite de segunda-feira, os "tupacamaristas" deixaram claro que a vitória sobre a guerrilha não podia ser dada como definitiva.
No dia seguinte, esse dado repercutia no âmbito econômico, que já vinha produzindo más notícias desde o início do ano.
Resultado da soma: crescente sombras sobre Fujimori.
O prestígio do presidente já vinha despencando desde antes da ação do MRTA: em dezembro, havia atingido o ponto mais baixo de sua gestão, com o apoio de apenas 41,3% dos peruanos, 32 pontos menos do que em janeiro.
A economia explica o retrocesso: a economia peruana encolheu 0,8% em outubro, o que faz prever que seu crescimento este ano será magro, pouco superior a 2%.
É por isso que o MRTA incluiu entre as suas exigências uma modificação da política econômica. Pedido de forte apelo popular, quando se sabe que até uma publicação econômica destinada ao empresariado, como "Gestión", diz que 63,8% dos peruanos desaprovam a política econômica.
A ação do MRTA coloca Fujimori entre duas pressões contrapostas: os governos que têm funcionários sequestrados, Brasil inclusive, pressionam por uma saída sem sangue, o que implica negociação com a guerrilha.
Já a lógica repressiva do governo exige dureza, para manter mais ou menos intato o segundo pilar da popularidade presidencial (o da vitória sobre a luta armada).
Qualquer que seja a escolha do presidente, implica riscos. A organização Human Rights Watch, observatório internacional sobre direitos humanos, criticou o governo Fujimori, em relatório do início do mês, por achar que foram feitos poucos progressos na matéria.
Um banho de sangue só contribuirá para manchar ainda mais a reputação do aparelho policial-militar peruano.
Ceder e negociar com os terroristas traz o risco de fortalecê-los no momento economicamente mais delicado da gestão Fujimori. Resta agora ver se o presidente reage conforme seu instinto ou conforme a pressão internacional.

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