São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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Peru começa a negociar com guerrilha

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

O governo peruano e os guerrilheiros que ocupam a residência oficial do embaixador do Japão no país começaram ontem a negociar os termos da libertação das 380 pessoas que foram feitas prisioneiras na terça-feira à noite, mas não há qualquer perspectiva de solução da crise.
Ontem, o jornal "La República" afirmou, sem citar fonte, que o presidente Fujimori estaria analisando a possibilidade de libertar 40 integrantes do MRTA, desde que nenhum deles esteja envolvido com homicídios, em troca de pelo menos parte dos sequestrados, muitos deles embaixadores, incluindo o do Brasil em Lima.
Fujimori, porém, não apresentou até agora qualquer contraproposta formal às reivindicações.
Seu único comunicado foi emitido na noite de ontem. Ele assegurou em mensagem ao presidente dos EUA, Bill Clinton, que está empenhado em encontrar uma solução para a crise e que a prioridade é a segurança dos reféns.
Ele participou à noite de uma reunião de emergência com o chanceler japonês, Yukihiko Ikeda.
A principal exigência da guerrilha é a libertação de todos os membros do MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) que estão presos. O total pode variar de 400 a 500 pessoas. Fujimori resiste a ceder. Grande parte de seu prestígio vem da postura intransigente adotada em relação à guerrilha.
A situação na residência oficial do embaixador do Japão se agravou no fim da tarde de ontem, quando foram cortadas a energia elétrica e as comunicações com telefones celulares na região.
Não se sabia se o corte era intencional. No início da noite, o governo anunciou que a situação seria normalizada às 19h30 (22h30, horário de Brasília).
Também foram ouvidos dois estampidos, o que aumentou a tensão. Posteriormente, se esclareceu que era a senha para entrada de ajuda humanitária na casa.
Ontem pela manhã, o presidente Fujimori se reuniu com o presidente do Conselho de Ministros, Alberto Pandolfi, o ministro do Interior e o ministro da Educação.
As negociações com os guerrilheiros são feitas por intermédio de uma comissão formada pelo embaixador do Canadá, Anthony Vincent, o embaixador da Alemanha, Heribert Woeckel, o embaixador da Grécia, Alcibiadis Karokis, e um adido cultural francês.
O embaixador do Canadá anunciou ontem a nomeação do chefe da delegação da Cruz Vermelha no Peru, Michel Minning, como negociador oficial. O governo peruano também anunciou a formação de um grupo de coordenação para analisar as opiniões dos países envolvidos na questão.
A Cruz Vermelha foi autorizada a entrar na casa com suprimentos. Segundo a entidade, havia 380 pessoas sequestradas. Às 18h foram soltos quatro reféns com problemas de saúde. Gain-Duri Grouss, membro da Cruz Vermelha que entrou na casa, disse à Folha que a situação estava calma e que os sequestrados estavam bem.
A versão de que os terroristas entraram na casa vestidos de garçons foi contestada. Todas as informações levam a crer que eles alugaram uma casa nos fundos da residência do embaixador japonês e explodiram o muro que liga as duas construções.
Cuba foi o único país a não condenar a ação dos guerrilheiros. O governo do Equador afirmou que o país está disposto a oferecer asilo aos guerrilheiros.

LEIA MAIS sobre a tomada de reféns em Lima às páginas 14 e 15

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