São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Empresário confirma intermediações

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Oscar Piconez, vice-presidente da Associação das Emissoras de Rádio e TV de São Paulo e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), confirmou a existência de esquemas de venda de concessões de rádio, conforme revelado ontem pela Folha.
Piconez disse que foi contatado por proprietários de emissoras de rádio do interior de São Paulo e de outros Estados que haviam sido abordados por pessoas oferecendo concessões. Os vendedores, segundo ele, diziam ter conexões dentro do Ministério das Comunicações.
"Tenho certeza absoluta que, nessa trama que foi armada, mais de 50 concessões de rádio e de televisão foram vendidas. Mas quem comprou não se identificou nem vai se identificar", afirmou.
O empresário disse que chegou a se reunir com um certo "comendador Sampaio", que estava oferecendo concessões de rádio e de TV a cabo em São Paulo.
"Simulei estar interessado em comprar concessões para investigar o caso, mas o comendador desapareceu depois do primeiro encontro. Não pude denunciá-lo, porque não tinha elementos de prova", afirmou Piconez.
Segundo ele, os nomes de intermediários apontados pela reportagem da Folha coincidem com alguns citados por empresários de radiodifusão do interior.
Disse que esses empresários o procuraram para se aconselhar se deviam ou não entrar no jogo: "Eu dizia para não comprarem, porque tinha quase certeza que se tratava de picaretagem, embora os vendedores dissessem ter conexões no ministério".
Piconez afirmou que a venda de concessões que não foram nem sequer autorizadas pelo governo é algo nunca visto no mercado de radiodifusão. "Essa é uma máfia nova. No passado, o que se tinha era o jogo de influência de políticos para obtenção de concessões do governo. A venda antecipada de concessões, eu nunca tinha visto e tenho certeza de que o ministro vai apurar o caso até o fim", declarou.
O empresário disse que o ministro Sérgio Motta deveria adiar o lançamento dos editais de licitação pública para concessões de rádio e TV até que o assunto esteja apurado (a medida já foi tomada pelo Ministério das Comunicações, conforme reportagem à pág. 1-4).
O presidente da Abert, Joaquim Medonça, também defendeu o adiamento da abertura de editais até a conclusão das investigações.
Ele disse que se surpreendeu com a existência do esquema divulgado pela Folha: "A radiodifusão não pode virar um balcão de negócios", afirmou.
Disse que se for provado que há cartas marcadas para a licitação, o governo deve recomeçar o processo da "estaca zero".

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