São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Consulado nega visto a garoto negro

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O Consulado dos EUA em Recife (PE) está sendo acusado de racismo por negar visto de entrada no país ao estudante negro Jerônimo Freitas Poggi de Carvalho, 18.
O adolescente faz parte de um grupo de 46 turistas pernambucanos que pretende embarcar para Orlando e Miami em 2 de janeiro, retornando no dia 16.
Jerônimo, único negro do grupo, foi também o único a ser convocado para entrevista no consulado e a ter seu visto de entrada nos EUA negado duas vezes.
O estudante é filho adotivo da psicóloga infantil Anamélia Freitas Poggi de Carvalho, que tem mais três filhos de cor branca.
Segundo ela, com exceção de Jerônimo, toda a família já havia feito o mesmo passeio pelos Estados Unidos "sem problema algum para entrar no país".
A diretora da Malta Turismo, empresa que organiza a viagem, Simone Malta, confirma que o estudante foi o único do grupo a não receber o visto.
Ela afirma também que a documentação do rapaz remetida ao consulado foi a mesma dos demais turistas. Os pedidos de visto foram encaminhados pela empresa.
Jerônimo foi ouvido pela primeira vez no consulado em 6 de dezembro. Voltou para casa com uma carta que dizia que ele não preenchia os requisitos para a obtenção do visto para entrar no país.
Para a segunda entrevista, realizada na quarta-feira passada, a psicóloga anexou à documentação do filho seu comprovante de matrícula escolar e os passaportes da família provando as viagens anteriores aos EUA. "Mesmo assim, eles não aceitaram", disse ela.
A mãe do estudante exige agora uma explicação do consulado ou da Embaixada dos EUA no Brasil. "Foi uma atitude no mínimo estranha e que precisa ser esclarecida", afirmou. "Nós esperamos que haja uma explicação aceitável, que consiga estabelecer uma diferença significativa entre os irmãos, além da cor", afirmou o advogado José Paulo Cavalcanti Filho, que acompanha o caso.
Para entidades ligadas ao movimento negro no Estado, a não-concessão do visto de entrada, nessa situação, caracteriza discriminação racial.

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