São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Representantes de universidades são contra prestação de contas

DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O plano do ministro Paulo Renato Souza (Educação) de obrigar faculdades e universidades particulares do país a prestar contas publicamente desagradou parte dos representantes dessas entidades.
A idéia foi lançada pelo ministro na segunda-feira passada, na abertura do Seminário Nacional de Ensino Superior, em Brasília.
O governo poderia até se valer de medida provisória para tornar obrigatória a publicação anual dos balanços orçamentários de todas as instituições de ensino superior brasileiras.
Os mais descontentes são aqueles que só apresentam balanços a órgãos governamentais.
"Nós já prestamos contas ao Conselho Nacional de Assistência Social e ao Ministério da Justiça. Não concordo que se exija mais do que isso", disse o diretor-executivo da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), Otávio Tomelin.
"Ninguém faz isso, porque nós teríamos de colocar nossos livros em cima da mesa para a sociedade?", acrescentou.
O presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior, Edson Franco, faz coro. "Não é o balanço que vai resolver as coisas. É a confiança recíproca", disse.
"Enquanto houver desconfiança, haverá malandragem. As contas do (banco) Nacional eram publicadas e fiscalizadas pelo Banco Central e não adiantou nada", afirmou ele.
Já para o reitor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, entidade que, por ser comunitária, tem de prestar contas publicamente, a medida seria "ótima".
"É importante saber quanto se investe na capacitação docente, com pessoal e modernização", disse Antonio Carlos Caruso Ronca.
Ainda assim, o reitor contou que tem dúvidas sobre a implantação da idéia. "Não sei qual seria a reação da Anup, por exemplo."
"O ensino é um bem público, não há por que não ter transparência", afirmou Ronca.
Ele também disse apoiar outra idéia do ministro da Educação -a de obrigar as instituições a dedicar pelo menos 60% de seus recursos para o pagamento de salários de professores.
Já a Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), de São Leopoldo (a 34 km de Porto Alegre) teme que a medida se torne uma intervenção na administração da entidade.
"Isso me parece ter um certo ar de intervenção. Além disso, não foram definidos quais os parâmetros, o custo operacional, a receita líquida, a receita bruta", afirmou o pró-reitor de administração, Célio Wolfarth.
Segundo ele, a Unisinos destina hoje 61,44% dos seus custos aos salários dos seus professores.

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