São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996 |
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Livro mostra a Berlim da década de 20
JOSÉ GERALDO COUTO
A ex e futura capital da Alemanha foi o palco central do nazismo e da Guerra Fria, do teatro militante de Bertolt Brecht e das pernas maliciosas de Marlene Dietrich, dos atentados racistas e da arte de vanguarda. "A Berlim de Bertolt Brecht - Um Álbum dos Anos 20", dos críticos e historiadores Wolf von Eckardt e Sander L. Gilman, mostra com riqueza de imagens que tudo isso já estava presente -de fato ou em potência- na década de 20. Profundamente ferida pela derrota alemã na Primeira Guerra, Berlim assistiu em 1919 ao fracasso do levante espartaquista, que pretendia trazer para o coração da Europa a revolução comunista vitoriosa na Rússia. Viu também a escalada inflacionária mais assustadora da história mundial: em 1919, um dólar comprava 4,2 marcos; em fins de 1923, comprava 4,2 trilhões de marcos. Havia desemprego, fome e falta de moradias. Nesse contexto de mazelas, em que proliferavam os aproveitadores de toda espécie, os seguidores do partido nazista -criado por Hitler em 1920- realizavam com crescente desfaçatez suas marchas e tumultos nas ruas de Berlim, vociferando contra os judeus e os comunistas. Efervescência Ao mesmo tempo, a vida intelectual e artística da cidade fervilhava nos teatros, cinemas e cafés. Antes mesmo de Brecht se instalar definitivamente em Berlim, em 1924, a cidade já vivia uma efervescência teatral, com encenadores como Max Reinhardt, Leopold Jessner e Erwin Piscator. O cinema expressionista -assunto relativamente pouco abordado no livro- era visto nas telas e discutido nos cafés. Nas artes plásticas, pintores e desenhistas como George Grosz, Otto Muller, Otto Dix, Max Beckmann, Kathe Kollwitz e Ernst Ludwig Kirchner rompiam os limites do próprio expressionismo com sua arte frequentemente dura, sarcástica e desesperada. A nova arquitetura da Bauhaus tinha em Berlim um de seus campos de experimentação e discussão. À noite, cintilavam os cabarés, casas de espetáculo e teatros de variedades. Havia, em suma, muitas Berlins em Berlim, e todos os futuros pareciam possíveis. Hoje, quando Berlim passa por uma gigantesca reforma para voltar a ser capital da Alemanha (e, simbolicamente, também da Europa unificada), é mais do que nunca importante conhecer sua história, seus fantasmas e suas promessas. Esse álbum pode ser um bom começo. Livro: A Berlim de Bertolt Brecht - Um Álbum dos Anos 20 Autores: Wolf von Eckardt e Sander L. Gilman Tradução: Alexandre Lissovsky Lançamento: José Olympio Editora Quanto: R$ 29 (170 págs.) Texto Anterior: Coletânea traz inteligência de Shaw Próximo Texto: Wisnik afirma importância do concretismo Índice |
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