São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Wisnik afirma importância do concretismo

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Régis Bonvicino galvanizou o debate com suas críticas ao concretismo. Já José Miguel Wisnik surpreendeu por sua generosidade com o movimento. Foi esta a tônica de "A Poesia Depois do Concretismo", debate promovido pela Folha na última quarta-feira.
Participaram o escritor Silviano Santiago, o professor de literatura brasileira na USP José Miguel Wisnik e os poetas Régis Bonvicino e Lenora de Barros.
Silviano Santiago iniciou com uma distinção entre poesia concreta, vista como a obra dos irmãos Campos e Décio Pignatari, e o concretismo.
Na discussão deste último, "teremos necessariamente de falar de Mario Chamie, da poesia tendência de Afonso Ávila, do neoconcretismo de Ferreira Gullar, do poema processo carioca e demais desdobramentos".
Prevendo o que viria a seguir, José Miguel Wisnik classificou o tema do debate de território minado. "Existem minas que podem explodir a qualquer momento quando alguém se posiciona em relação à poesia concreta".
Wisnik ressaltou a forte influência do movimento em áreas como música, artes plásticas, produção literária, crítica, ensaística e interpretação da cultura.
Às acusações de autoritarismo feitas ao concretismo, Lenora de Barros contrapôs sua experiência pessoal. "A poesia concreta, para mim, trouxe justamente muita liberdade, me levou a sair do papel e ir para o espaço", disse.
Mas foi Régis Bonvicino quem mudou o centro do debate, dizendo-se "entediado" com a discussão. "Falar de poesia concreta para mim é uma coisa déjà vu. Eu fico imaginando Mário de Andrade, em 1962, falando de si mesmo em 1922. Para mim, causa um certo estranhamento. Estou interessado no futuro."
Bonvicino não deixou de reconhecer a importância dos irmãos Campos e de Décio Pignatari. "Mas também não os vejo como centro da cultura brasileira no século 20". E sugeriu que se falasse de "uma nova poesia brasileira que nunca é identificada".
Os debatedores morderam a isca. Santiago ressaltou a importância da tradução na criação de novas dicções poéticas. "É pelas traduções que os irmãos Campos e Décio Pignatari voltam à questão do verso."
Dessa maneira, estariam abrindo caminho para a poesia dos anos 80. "É impossível falar de Ana Cristina Cesar sem falar da tradutora de Emily Dickinson", disse. "Quando ela traduz Emily Dickinson, está criando um tipo de verso que não existe na poesia brasileira, e do qual vai se valer ao escrever seus próprios poemas."
Além da importância da tradução, José Miguel Wisnik ressaltou a importância da própria produção poética do concretismo: "Acho muitas coisas da poesia concreta grande poesia".
E identificou, na nova poesia brasileira, poetas marcados pela poesia concreta sem serem concretistas, como Waly Salomão e Arnaldo Antunes. "São poéticas pessoais, em que a poesia concreta é uma das influências".
Bonvicino polemizou com a platéia ao dizer que "existe certa militância para que o concretismo permaneça o único assunto da literatura brasileira contemporânea". E acrescentou: "Eu estou interessado no espírito de descoberta de invenção que estava na cabeça do Haroldo e do Augusto nos 50 e 60, e não no espírito de canonização que vejo na poesia concreta".

Texto Anterior: Livro mostra a Berlim da década de 20
Próximo Texto: Temporada 97 mantém qualidade em SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.