São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Globalização musical surge

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Bem mais que em 1996, a próxima temporada de música erudita demonstra que São Paulo está perfeitamente integrada no mercado globalizado dos intérpretes.
Há por aqui patrocínio privado e consumidores de assinaturas e de ingressos para a movimentação de algo que poderá atingir US$ 15 milhões neste próximo ano.
Ao lado do poder aquisitivo de um público que poderá pagar até R$ 80 por espetáculo, há também uma máquina cada vez mais azeitada para a negociação de cachês e para a venda de cotas a empresas, beneficiadas por investimentos feitos com incentivos fiscais.
Paralelamente, o eixo da música se afastou do Teatro Municipal, sua tradicional residência. A Orquestra Sinfônica está passando por um de seus bons períodos (pretende gravar compositores brasileiros em 1997). O coral lírico se tornou um corpo estável de excepcional qualidade técnica.
Mas, com o peso do cronograma político e da burocracia, a prefeitura não consegue competir com as entidades de concerto privadas ou sem fins lucrativos.
Um exemplo: não foi possível programar antecipadamente a agenda de 1997, porque, com as eleições, mudará o prefeito, poderia ter mudado o secretário municipal da Cultura, e, com ele, o diretor musical do teatro.
É então inevitável que se pague mais caro para produzir bons espetáculos com artistas estrangeiros. Uma ópera montada pela prefeitura tem saído menos em conta que um espetáculo equivalente encenado, no mesmo Municipal, com a produção (privada) dos Patronos, mais ágeis e que negociam cachês com maior antecedência.
Há uma diferença básica entre a missão da prefeitura e a de entidades que atuam segundo as regras do mercado. Com seu corpo permanente de músicos, o poder público financia espetáculos mais frequentes e a preços menores.
Há também o Estado. Mas sua sinfônica ainda atravessa as incertezas da sucessão do maestro Eleazar de Carvalho e continua a não dispor, no Memorial da América Latina, de condições acústicas.
O mesmo vale para os dois outros conjuntos estaduais, a Jazz Sinfônica e a Banda Sinfônica.
São os pobres de um prato da balança, na qual o prato com mais recursos trará pela segunda vez Kiri Te Kanawa ou o Quarteto Alban Berg, Vladimir Ashkenazy ou Katia Ricciarelli. Ou que trará o clavicinista Gustav Leonhardt.
(JBN)

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