São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Reféns enfrentam condições precárias

CLÁUDIA TREVISAN
DA ENVIADA ESPECIAL

A situação dos quase 400 reféns que estão na residência oficial do embaixador do Japão em Lima era crítica ontem, quatro dias depois do início do sequestro, na noite da última terça-feira.
Integrantes da Cruz Vermelha que estiveram na casa disseram que há reféns com uma série de problemas de saúde, como diarréia e úlcera. Além disso, não há banheiros nem colchões suficientes para todos.
A Cruz Vermelha e a ONU (Organização das Nações Unidas) passaram o dia de ontem tentando melhorar a condição física dos sequestrados.
Comida
A ONU se ofereceu para fornecer 1.000 refeições por dia aos reféns -500 no almoço e 500 no jantar.
Os guerrilheiros aceitaram, com a condição de que funcionários da ONU acompanhassem todo o processo de produção das refeições, para se certificarem de que nada seja acrescentado aos alimentos.
As primeiras 500 refeições foram entregues no almoço de ontem: frango, legumes e uma sobremesa.
Água
A Cruz Vermelha entregou cerca de 60 recipientes de água de cinco litros cada um, frutas e produtos de higiene, principalmente papel higiênico. Antes de levar os produtos para dentro da casa, integrantes da entidade retiraram vários sacos de lixo acumulado.
Desde ontem, os familiares dos sequestrados estão entregando remédios, roupas e produtos de uso pessoal na sede da Cruz Vermelha. A exigência é de que todos os materiais sejam colocados em sacolas transparentes.
Não é difícil imaginar o quão desconfortável é a situação dos reféns. São quase 400 pessoas, sob a mira permanente de armas.
A maioria dos reféns vem dormindo diretamente sobre o chão e está impedida de se comunicar com suas famílias.
Mensagens
Ontem, alguns reféns começaram a enviar mensagens por meio de cartazes afixados em uma das janelas da casa. Eles pediam a religação da energia elétrica, cortada anteontem, mais água e telefones celulares.
A residência do embaixador do Japão ficou sem energia elétrica ontem no final da tarde e continuava na mesma situação ontem.
Integrantes do governo disseram ontem que se tratava de um problema técnico e não de um corte intencional.
Calor
O calor dentro da casa é mais um problema enfrentado pelos reféns.
Mesmo quando há energia, os aparelhos de ar condicionado são insuficientes para refrigerar todos os cômodos. Para tentar melhorar a situação, a Cruz Vermelha entregou cerca de 20 ventiladores na casa na tarde de anteontem.
A entrega de cada produto na casa é precedida de um longo processo que envolve a Cruz Vermelha, os guardas da Polícia Nacional e os guerrilheiros.
Os policiais revistam os produtos antes da entrega e o processo é repetido depois pelos guerrilheiros. Muitas vezes, o processo demora horas.
Peruanos
Familiares de vários reféns vão diariamente às imediações da casa tentar obter informações e mandar mensagens, sempre sem sucesso. Todos os contatos estão sendo feitos exclusivamente pela Cruz Vermelha.
A situação dos reféns preocupa também os moradores de Lima.
Os peruanos temem que a atuação dos guerrilheiros prejudique a imagem do Peru no exterior, principalmente agora que se acreditava que o país estava finalmente pacificado.
Muitos moradores afixaram bandeiras nacionais em suas casas, como uma forma de protesto à atuação dos guerrilheiros.
"Isso afeta a todos os peruanos", disse o taxista Juán Noriega. Segundo Noriega, o excesso de confiança dos peruanos na derrota dos terroristas foi o responsável pela desagradável surpresa que o país teve na noite de terça-feira.

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