São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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O acordão e o eleitor

MARTA SALOMON

Brasília - Os articuladores políticos do governo são pessoas que acordam e dormem (geralmente pouco) pensando na reeleição.
Nos lances de agora, os articuladores de sono curto estariam definindo 70% da sucessão presidencial e de todo o jogo do poder no Brasil nos próximos seis anos, pelo menos. Coisa para profissionais.
E o eleitor, onde fica? Nos 30% do jogo das urnas, calculou o deputado Benito Gama (PFL-BA), líder do governo, no intervalo de duas reuniões com seus colegas do grupo de trabalho da reeleição.
Exausto, ele tentava explicar o porquê de tanta tensão na disputa das presidências da Câmara e do Senado, e no esforço para acomodar interesses de políticos de três grandes partidos -o PFL, o PMDB e o PSDB.
"Estamos definindo o jogo do poder no Brasil e 70% da eleição de 98", resumiu o deputado, com todo o pragmatismo dos pefelistas. Em seguida, seu raciocínio chegou à seguinte pérola: "O jogo bruto do poder quem decide não é o povo".
Parece lógico para Benito. A reeleição será decidida no Congresso, claro. E depende da composição de forças que lá estão representadas, com seus respectivos projetos de poder.
Mais do que uma conclusão matemática, porém, o pequeno espaço que o raciocínio de Benito reserva ao eleitor nesse jogo todo também vale como uma regra para os estrategistas da reeleição.
Pergunte a qualquer um deles, seriamente, se gostaria de submeter a mudança da Constituição a qualquer tipo de consulta popular prévia ou posterior à decisão do Congresso. A resposta será: não.
O PFL até chegou a estudar a hipótese de um referendo. O estudo foi deixado na gaveta. Só seria retirado de lá no caso de o jogo da cúpula se complicar e precisar de um empurrãozinho simbólico.
Torcem os aliados da reeleição de FHC para que o instinto de sobrevivência dos políticos no poder se encarregue de fazer todo o serviço.

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