São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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PT gaúcho cresce e ocupa lugar do paulista

EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Berço do PT, São Paulo está deixando de ser o eixo mais importante do petismo no país. Desde 1990, o partido sofre no Estado um acelerado processo de debilidade eleitoral, perdendo prestígio e espaço político para o PT gaúcho.
Ao contrário do PT paulista, o PT gaúcho cresce a cada nova eleição. Seu maior trunfo ocorreu no último pleito. Além de Porto Alegre, onde ganhou seu terceiro mandato consecutivo, há um rastro de vitórias em todo o Estado.
Enquanto o PT paulista elegia apenas 13 prefeitos, perdendo as prefeituras de importantes cidades, o PT gaúcho pulou de 8 para 26 cidades sob sua administração. Além disso, seu mapa eleitoral se estendeu por todo o Estado.
O PT gaúcho vai controlar a partir de janeiro duas das três maiores cidades do Estado -além de Porto Alegre, ganhou em Caxias; perdeu em Pelotas por poucos votos. Foi o suficiente para virar favorito para o governo estadual em 98.
Politização
Por trás desse crescimento significativo, há fatores dos mais diversos tipos. Um deles é a tradição política gaúcha. Berço da Revolução Farroupilha, de 1835, e do trabalhismo, fundado por Getúlio Vargas, o Rio Grande do Sul é o Estado mais politizado do país.
O PT se beneficia largamente dessa tradição. O partido vem herdando ao longo dos anos o espólio eleitoral de Vargas e de Leonel Brizola (PDT). Outro fator é o perfil do petismo no Rio Grande do Sul, bastante diferente do PT paulista.
Em São Paulo, o PT tem como base o sindicalismo, de onde saíram suas principais lideranças. O PT gaúcho tem origem entre intelectuais de esquerda, de classe média. Depois, espalhou-se por sindicatos e movimentos populares.
Graças a esse perfil, segundo os petistas gaúchos, o PT local tem capacidade de elaborar um projeto mais global e abrangente para a sociedade. Por isso, cresce mais. O PT paulista, na opinião deles, é mais restrito e corporativista.
Roupa suja
Outro fator igualmente importante é a capacidade do PT gaúcho de administrar seus conflitos internos e a convivência pacífica de suas correntes internas. Ao contrário dos paulistas, os gaúchos não lavam roupa suja em público.
Em São Paulo, embates entre petistas de Diadema e de Santos são apontados como responsáveis diretos pelas derrotas naquelas cidades. Os gaúchos sabem administrar suas crises sem gerar cisões.
Por causa disso, o PT gaúcho cresce muito mais do que o paulista. Em 1994, quando não tinha ainda a força eleitoral que tem hoje, o PT local perdeu o governo local por apenas 4% dos votos. Em São Paulo, não há o menor sinal à vista de o PT chegar ao governo.
O PT gaúcho também consolida sua vantagem no Legislativo. Seus sete deputados federais eleitos em 94 representam 22,6% dos 31 parlamentares gaúchos; os 14 eleitos em São Paulo totalizam 20% da bancada de 70 deputados locais.
Grande parte desse êxito se deve aos projetos postos em prática nas duas administrações petistas em Porto Alegre. O modelo petista não exclui nenhum setor da sociedade, entre eles o empresariado.
Entre os projetos de parceria com o empresariado, está o Tecnópole, cujo objetivo é integrar novos padrões tecnológicos na atividade produtiva local. Outro projeto bem-sucedido é a Comunidade de Crédito Portosol.
Trata-se de uma espécie de banco que financia projetos para a população de baixa renda. Em 96, foram feitos 2.000 empréstimos, no valor total de R$ 2,5 milhões. A inadimplência é de apenas 2,3% -no mercado, chega a 15%.

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