São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Para Genro, politização é fator

EMANUEL NERI
DO ENVIADO ESPECIAL

Para o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, as diferenças entre o PT gaúcho e o paulista começam na tradição política local. "A sociedade gaúcha é mais politizada e homogênea que a de São Paulo", afirma.
Raul Pont, seu sucessor, faz avaliação semelhante. "Temos uma identidade partidária mais sólida do que a média do país." Para eles, tais fatores se refletem na cultura do PT local e do próprio governo.
A origem do PT em um e outro Estado também define essas diferenças. Para Genro, hoje considerado um presidenciável petista, o perfil sindicalista do PT no Estado prejudica o partido.
"Não creio que os movimentos de corporação por si mesmo sejam movimentos políticos capazes de apresentar um projeto global para a sociedade", diz. Para ele, a única vantagem é um "enraizamento maior" entre os trabalhadores.
Como desvantagem, segundo Genro, a origem sindical do PT paulista "dificulta" a apresentação de um projeto global e consistente para a sociedade.
"No nosso caso (PT gaúcho), temos movimentos sindicais muito atuantes, mas o peso e a influência das corporações dentro do partido é menor", afirma. O diagnóstico do prefeito é radical.
"O direito das corporações deve ser preservado e defendido", diz. "Mas os instrumentos próprios para isso são os sindicatos, não os partidos", diz. "O partido é para apresentar projetos para o conjunto da sociedade", afirma Genro.
Para explicar as diferenças entre o PT gaúcho e paulista, Genro busca exemplos na Revolução Russa de 1917. "Estranhamente, a origem do partido aqui é mais semelhante à do Partido Bolchevique."
O PT gaúcho, compara, saiu da intelectualidade média para se espalhar na classe trabalhadora e na periferia. "O PT paulista tem o corte tradicional da social-democracia européia, que sai dos sindicatos para a intelectualidade."
Para Genro, ao contrário do PT gaúcho, o paulista necessita do que ele chama de "homens médios", capazes de trazer para dentro do partido o que ocorre no cotidiano da sociedade. "Sem isso, o partido não consegue se desenvolver."
Segundo o prefeito, trata-se de um "problema fundamental" do PT paulista. "Em São Paulo, o PT tem quadros, base completamente ampla, mas não tem homens médios capazes de fazer esse elo, de criar essa tensão permanente."
(EN)

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