São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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FHC dá R$ 1,2 bi para completar Angra 2

RUI NOGUEIRA
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sem alarde, o governo FHC vem promovendo a retomada dos investimentos nucleares que ficaram estagnados nos últimos 13 anos.
O ponto mais vistoso dessa retomada comandada pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) são as obras de Angra 2.
Iniciada em 1976, Angra 2 consumiu aproximadamente R$ 7 bilhões e receberá mais R$ 1,2 bilhão até a conclusão, em 1998.
Mas o programa nuclear tem outros grandes investimentos: R$ 21 milhões em uma nova mina de urânio e R$ 24 milhões na pesquisa e infra-estrutura para domínio do ciclo do combustível são dois exemplos.
A novidade é a extensão dos investimentos em áreas como técnicas de irradiação de alimentos (leia texto abaixo) e medicina nuclear. O problema mais grave, afora as contenções orçamentárias, é a mão-de-obra.
Envelhecimento
Segundo estudo da SAE, apresentado pelo ministro Ronaldo Sardenberg no 6º Congresso Geral de Energia Nuclear, em outubro passado, no Rio, 53% do pessoal com treinamento específico nessa área tem idade superior a 42 anos, e apenas 8% tem menos de 30 anos.
"Isso demonstra um envelhecimento do quadro, sem a devida reposição", concluiu o ministro, que apresentou outro dado do perfil envelhecido desses técnicos por conta das aposentadorias precoces -apenas 10% do pessoal com especialização nuclear possui idade superior a 51 anos.
A abertura da nova mina -projeto Lagoa Real, na Bahia- é para substituir a reserva de Poços de Caldas (MG) e deve produzir cerca de 300 toneladas/ano.
"Dará, tranquilamente, para abastecer Angra 1 e 2. A questão é processar o urânio", afirmou Sardenberg.
Combustível
O programa nuclear da Marinha, no Centro Tecnológico de Aramar (SP), ficou menos isolado das ações gerais do governo na área e passou a ser o fornecedor de tecnologia para a fábrica de pastilhas de combustível nuclear em Resende (RJ).
Em contrapartida, a SAE ajuda a Marinha a aumentar sua capacidade de produção de combustível para o projeto do submarino nuclear.
A Marinha até já negocia com a Argentina o fornecimento de combustível para a pesquisa nuclear do país vizinho.
A SAE calcula que o investimento de R$ 24 milhões, além de tornar o Brasil um dos 12 países produtores mundiais de elementos combustíveis, significará uma economia de R$ 12 milhões para a produção no núcleo inicial de Angra 2 e mais R$ 8 milhões nas recargas periódicas das duas usinas.
No varejo, os investimentos nucleares chegaram também à infra-estrutura de pesquisa.
A Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) assinou um contrato no valor de R$ 5 milhões para comprar um novo aparelho para aumentar sua produção de radioisótopos e fazer pesquisa em radiofarmácia.
O reator IEA-R1, instalado no Ipen em São Paulo (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), recebeu R$ 3,5 milhões para duplicar a sua capacidade.
Goiânia
Nove anos depois do acidente radioativo em Goiânia -quatro pessoas morreram e 67 ficaram feridas-, o governo promete também para o início do ano que vem a conclusão das obras do sarcófago (depósito) para guardar os detritos do césio 137.

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