São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Maior concorrência derruba as tarifas

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

Os pais de Leonardo Nualart, 42, esperaram 12 anos pela chegada de um telefone. Ele próprio ficou na fila três anos. Mas hoje tem duas linhas em casa e 120 no escritório.
Gerente de operações da Nexcom, a maior empresa de telemarketing no Chile, Nualart diz que não haveria viabilidade técnica para seu ramo de negócios, caso o país não tivesse desregulamentado o mercado e implantado um regime de ampla concorrência.
Operam hoje oito empresas de interurbano, oito de celulares e cinco de telefonia local.
Há 20 anos, os chilenos tinham 2,3 linhas por 100 habitantes. Têm hoje 15. Com a desregulamentação, em 1988, quadruplicaram os 480 mil telefones instalados.
O preço do telefone doméstico caiu de US$ 900 para US$ 150, que a ex-estatal CTC (80% do mercado) financia em dez prestações descontadas na conta mensal.
"Com isso, dificilmente um cidadão da classe C1 deixará de ter telefone em casa. As classes A e B caminham para a segunda linha doméstica", diz Nualart.
A rigor, só os excluídos do mercado também ficaram de fora da telefonia. Angelina Gonzalez Machuca, 20, é uma delas. Com o filho, uma irmã e dois sobrinhos, é pedinte nas imediações do La Moneda, o palácio presidencial.
"Só consigo trabalho na época da colheita das frutas", afirma. A fruticultura é, depois do cobre, a maior fonte de receitas externas.
Um contraste com sua condição aparece numa loja da rua Huérfanos, movimentado calçadão no centro da capital. Quem comprasse mais de US$ 120 em presentes de Natal recebia como brinde um celular e a linha da Bell South instalada em no máximo cinco dias.
A poucos metros de distância, Debora Araja, 23, vendedora de cartões postais, ponderava:
"Celular não é para qualquer pessoa. Se eu tivesse um, pagaria dez vezes mais por minuto que uma ligação feita de um orelhão."
Em verdade, mesmo com cinco vezes mais celulares por habitante que no Brasil, o chileno não faz de seu aparelhinho uma demonstração esnobe de ascensão social.
Uma quinta-feira, há duas semanas: talvez mil pessoas, ao entardecer, passeavam, tomavam sorvete ou paqueravam na praça das Armas, centro de Santiago. Nenhum som de celular.
Horas antes, outra constatação: um só jornaleiro -Leonardo Echeverria Alarcon, 30- portava um desses aparelhos. Ele argumenta que ganha dinheiro porque pode ser contatado por clientes sobre a chegada de revistas.
Ao lado de sua banca, há dois orelhões de empresas diferentes, com um curioso detalhe: eles também completam chamadas de outras empresas que concorrem no mesmo mercado do interurbano.
Quem escolhe é o consumidor. No orelhão da Manquehue, por US$ 1,00 se fala com os Estados Unidos durante 52 segundos pela Entel, por 80 segundos pela CNT e por 92 segundos pela Iusatel.

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