São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Paulistano põe crenças no liquidificador

NOELLY RUSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma área de aproximadamente 115 km2, que reúne bairros do centro histórico e expandido, é possível encontrar Deus das mais variadas formas.
A Folha relacionou oito religiões, entre as principais, e localizou seus templos ou locais de cultos nas diferentes regiões da cidade, de acordo com dados fornecidos pelas federações.
Além dos templos das religiões organizadas, há incontáveis seitas, igrejas e cultos que aparecem e somem diariamente. Essas "religiões-relâmpago" costumam aparecer nessa área, mas também se espalham pela periferia da cidade (veja mapa abaixo).
"A diversidade cultural da cidade é provavelmente a maior do país. Principalmente porque a comunidade japonesa é muito maior aqui do que no Rio, onde também há muitos cultos", diz Reginaldo Prandi, professor titular do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo.
O grande número de religiões -que passa pelas tradicionais, como catolicismo, islamismo e judaísmo- e de novas formas de cultos -como a "magia organizada", com regras para os fiéis,- reflete um novo comportamento dos paulistanos em relação à fé.
"Hoje, vivemos o fenômeno da bricolagem, em que cada um pega um pedaço de uma religião e cria sua própria forma de cultuar Deus. Os cultos mais tradicionais são os que se mantêm mais íntegros, mas são os que mais perdem adeptos", diz José Queiroz, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da religião da PUC.
Segundo ele, as pessoas usam o que há de melhor numa religião e rejeitam o que não convém ou não serve a seus propósitos.
Outro fenômeno na cidade é a reopção religiosa. É comum encontrar pessoas que passam por vários credos.
"As pessoas hoje vivem suas vidas apesar das religiões oficiais. Um católico se divorcia apesar de a religião considerar sua união indissolúvel", diz Prandi.
Para Rita de Cássia Amaral, 36, doutoranda em sociologia na USP, hoje ninguém mais vive sob dogmas. "É uma colcha de retalhos. Se a Igreja Católica não casa divorciados, o casal procura a Igreja Católica Brasileira, ou o candomblé, o budismo. O mercado é enorme."
Segundos os estudiosos, não há dados sobre o número de religiões ou de templos da cidade. A principal dificuldade está na rapidez com que eles surgem a cada dia.
A convivência entre as religiões na cidade nem sempre foi pacífica. Cristianismo, islamismo e judaísmo têm uma tradição de respeito. Os conflitos costumavam ocorrer entre evangélicos e afro-brasileiros. "Mas hoje, respeita-se mais o culto afro, que era considerado adoração ao diabo", diz Prandi.

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