São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Fé aumenta e a religiosidade diminui

NOELLY RUSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

"As pessoas hoje têm mais fé e menos religião", afirma Rita de Cássia Amaral, 36, doutoranda em antropologia social na Universidade de São Paulo. Segundo ela, o que tem perdido importância é a instituição -e não a crença.
A procura por respostas imediatas também explicaria o êxodo nas grandes igrejas e, por exemplo, o crescimento na procura por cultos afro-brasileiros, diz Reginaldo Prandi, professor titular do departamento de Sociologia da USP.
"Se olharmos as estatísticas, a religião católica ainda é a de maior número de adeptos. Mas os católicos, como os seguidores de outras religiões formais, procuram socorro espiritual em terreiros."
Como Rita Amaral, Prandi também acredita que a religião como instituição deixa de ter importância a cada dia na vida das pessoas.
"Hoje não adianta a igreja ser contrária à prática do sexo antes do casamento. Ninguém mais pensa nisso para tomar decisões sobre a própria vida", diz Prandi.
Para Rita Amaral, em substituição ao formalismo das religiões tradicionais, as pessoas criam "religiões" próprias.
"Se a umbanda não resolve meu problema, procuro uma saída na filosofia budista, em leitura de tarô ou outras formas. Hoje, como a fé e a vontade de acreditar em algo são grandes, o mercado religioso aumenta e oferece alternativas."
Católicos e judeus
Os católicos, por ser maioria, são os que mais perdem fiéis. "Não se pode perder o que não se tem", diz o padre Fernando Altmeyer, vigário de comunicação da Cúria Metropolitana de São Paulo.
"Ser católico no Brasil é como dizer que torce para o Corinthians. Quantos corintianos vão ao estádio? O mesmo se dá com os católicos. Os praticantes não abandonam a religião. Mas quem não frequenta a igreja, procura outras formas de cultuar Deus."
Segundo ele, uma das estratégias para recuperar fiéis é recolocar no ar a rádio 9 de Julho, fechada em 73 pelo regime militar.
"Até o meio do ano que vem, a rádio vai estar no ar. Nós conseguimos que o governo nos desse 100 quilowatts de potência. Não achamos que ter uma rádio é suficiente para recuperar os fiéis, mas é um dos passos", diz.
Para Henry I. Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita do Estado de São Paulo, a perda de fiéis também preocupa, mas em menor proporção.
"Enquanto verificamos uma aumento no interesse de não-judeus em se converter, também nos preocupamos com os judeus que abandonam a religião ou estão afastados." Segundo Sobel, diferentemente da religião católica, o judaísmo não é proselitista, ou seja, não busca aumentar o número de fiéis.

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