São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O jeito, o sem jeito o trejeito

HECTOR BABENCO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Marisa Monte tem um jeito sem jeito de interpretar. Com seus trejeitos, ela destrói o personagem, rompe com toda a origem e nos coloca ao seu lado nesta busca de outros horizontes.
É uma cantora séria, que não tenta agradar com a modinha de carnaval ou a musiquinha dos bailes adolescentes.
A maioria das intérpretes, ao menos em algum momento, cede à facilidade de se revisitar em seus sucessos e visitar umas às outras nas glórias alheias. Marisa não caiu em ciladas para cantoras famosas. Sua investigação não cessa. Ela é uma desengonçada maneira de surpreender.
A sua própria irregularidade é um jeito de desconcertar o sucesso, de recusar a repetição.
Na sua voz, soa mais o violoncelo que a clarineta (há algo de masculino nesta voz que me fascina). Seu rosto não é destes tempos, é um camafeu vitoriano, uma medalha antiga. Quem é Marisa Monte? É uma "chansonnière" do cinema mudo? É uma rainha angolana?
Mas ela não está preocupada em nos confundir, assim como não está interessada em satisfazer a mídia. A sua luz é própria e diz respeito a uma forma muito arrojada e completa de cantar. É uma pessoa cheia de curiosidade, que deixa irromper, por meio de sua musicalidade dispersa e diversa, os lugares que ela vai descobrindo -e aos quais eu sempre me deixo levar, para entender por onde ela anda.

Texto Anterior: A debochada garota do velho rock
Próximo Texto: Como se fosse a última vez
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.